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Train to Busan: Os mortos-vivos viajam em primeira classe

Numa das suas últimas entrevistas, George A. Romero acusou Brad Pitt e os Walking Deads de estarem a matar o subgénero dos zombies, a permitir que os grandes estúdios e canais de televisão penetrassem nesse mesmo universo, investindo milhões e “sufocando” assim qualquer liberdade criativa ou margem para críticas sociais, numa temática que o mestre conhece e intimamente bem.

Train to Busan”, uma grande produção sul-coreana de Sang-ho Yeon (com prática na animação adulta), seria de facto um desses exemplos de megalomania mercantil. Um comboio para o Fim da Humanidade, uma peste sabe-se lá donde e os mortos que teimam em não cair no repouso eterno, pistas que já funcionam como lugares-comuns neste universo cinematográfico, em acréscimo com a vibrante e frenética ação, que tal como o “World War Z” (esse infame incursão com Brad Pitt), apresentam os cadáveres como baratas famintas, tudo movimentado por uma orgânica e infernal hiperatividade. Com um leque escolhido de personagem em mais um modo de sobrevivência, bocejantes, deva-se dizer, são arrasados em tempo limite, é uma corrida contra ao tempo, ultra-física e sem espaço para conceber um comentário social. Porque não vale a pena fingir, não existe qualquer elemento crítico, o terror não é mais um metáfora, é um circo ambulante a condizer com os códigos mais reconhecíveis do cinema sul-coreano recente.

O meloso extremo que se atropela nas proximidades do final (muita dela em forma de flashbacks para-quedistas), de forma a garantir uma emocionante (ou manipuladora) ênfase ao sacrifício heróico, os estereótipos que se resumem a personagens, roçando o vagante industrial (mais uma produção coreana, mais um hobo [vagabundo]), tudo feito num “oito” para a concepção de um blockbuster sem consciência. Romero criou nos seus zombies uma lente para ver os “podres” da nossa sociedade, do capitalismo à febre do Vietname, às castas de classes aos privilégios sociais, porém, a indústria os roubou e os converteu ao “vazio”, aos moribundos arrastados em busca dos seus “miolos”. “Train to Busan” viveu do hype, apenas isso!