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«The Limehouse Golem» (Os Crimes de Limehouse) por Hugo Gomes

Curioso este completo cenário envolto a The Limehouse Golem, os crimes vitorianos com o burlesco como fusão, pista a pista por uma reinventada pose de um Sherlock Holmes wannabe. Sim, todo o interesse que possa surgir deste filme nasceu da imaginação do escritor Peter Ackroyd e do seu apetite pelo grotesco em 1994, o espetáculo mundano das classes baixas e sujas de uma Londres dos tempos da Rainha Vitória. Uma espécie de macabro retrato pelo sensacionalismo dos media e da “sede desumana” por esses consumidores. O filme, porém, é outro caso.

Assinado pelo espanhol Juan Carlos Medina, quatro anos depois de Insensibles [ler crítica [1]], este Golem sem relacionamento com a mítica e homónima criatura judia é um autêntico velcro cinematográfico. Enquanto é criado um cenário gótico-vitoriano de requinte, um elenco capaz de sombrear “canastridades” (um competente Bill Nighy num papel que iria ser endereçado a Alan Rickman), The Limehouse Golem resolve acentuar a sua artificialidade contra o próprio enredo, este tratado com “chico-espertice” perante o espectador, que voltas e revoltas dá até chegar à previsibilidade. De certa forma, achamos divinal esse “castigo” pelo entediado whoddunit perante a criminalidade da ocultação que ousa em operar ao longo da trama.

O público, esse, involuntariamente cego perante as confusões de uma escondida lista de crimes, sem a perceção da investigação que se vai desenrolar à frente dos seus olhos. Assim como os flashbacks, que poderiam ter o seu cunho de criatividade num sinistro dueto debitado, é forçado a persistir como cúmplice numa arrastada fraude. Sim, The Limehouse Golem é uma obra de enganos, um embuste para quem o vê.

No final desta experiência, retiramos a condição feminina na ciência do macabro e do humor negro no qual consistiu Karl Marx como um dos suspeitos a estripador. Mas no fundo, é um filme infeliz, confirmando o quanto visual é o cinema de Medina em prol de um tremendo vácuo sob disfarce. 

Hugo Gomes