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«The Incredible Jessica James» por André Gonçalves

O que seria de “The Incredible Jessica James” sem a sua estrela principal Jessica Williams? Não seria um projeto, muito provavelmente.

Tendo o realizador Jim Strouse admitido que concebeu esta obra com Williams especificamente em mente, após a presença desta no seu filme “People Places Things“, e partilhando o nome próprio com o próprio nome da personagem, “The Incredible Jessica James” preenche totalmente a função clássica de filme-veículo de uma estrela em ascensão (que aqui escolhe também controlar a sua presença na cadeira de produtora executiva).

A atriz, vinda da escola “The Daily Show” como uma das suas correspondentes, espalha assim carisma e humor mais que suficientes para acompanharmos e nos rirmos com as suas aventuras e desventuras em Nova Iorque, enquanto tenta sobreviver como dramaturga. Temos assim duas linhas narrativas clássicas: 1) o encontrar de um novo interesse romântico, com o ex-namorado ainda bem presente nos pensamentos da protagonista; e 2) a dificuldade em seguir o seu sonho profissional – neste caso, o de ser uma dramaturga que acumula cartas de rejeição de companhias de maior estatuto, e as pendura na parede. 

Sobre romances intelectualmente “sobreconscientes” decorridos em Nova Iorque houve toda uma escola pós-Woody Allen. Jim Strouse praticamente adapta/atualiza os ensinamentos de Allen para um cenário mais feminino, interracial e sexualmente plural que uma parte muito extensa da sua obra, mas sem o mesmo génio que caracterizou o seu pico. E o seu último ato acaba por desapontar ligeiramente, embora esteja em conformidade com a simplicidade e familiaridade da linguagem cinematográfica que foi empregando. Não será de todo impensável com isto questionar se o lugar ideal para este projeto não teria sido o catálogo de séries Netflix (e o formato tradicional de comédia de meia hora), a “rivalizar” com “Master of None” do mesmo serviço de streaming.

Dito isto, como filme-veículo que é, sucede. Sentimos de facto que toda a sua personalidade efervescente da obra é mais responsabilidade do que Jessica Williams faz com o que lhe foi dado, que o que Strouse lhe deu efetivamente para fazer. E neste caso em concreto, chega perfeitamente para o investimento.

André Gonçalves