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Baby Driver: uma desculpa para tocar aquela “lista de reprodução”

Edgar Wright coloca a sua playlist à nossa disposição neste pseudo-heist arrancado em mudança 5. A introdução a este mundo criminal revestido na fantasia vendida de um GTA (referindo um dos ponto-auge da veneração do crime e as suas inconsequências), faz-se de um jeito previsível, até porque começamos com um assalto e assim sequencialmente, uma fuga. Por vias de diegese musical, ouvimos The Jon Spencer Blues Explosion e os seus The Bellbottoms, o ritmo excede cada vez mais, a edição torna-se num organismo por via da acção, numa perseguição automobilística exata que faz envergonhar qualquer capítulo de uma saga “veloz e feroz”. Sim, é um pequeno pedaço de ação a culminar numa certa veia da recta final dos anos 60 e 70, na explosão dos policiais com grande aposta na arte dos stunts automobilísticos. E se orquestrar uma perseguição no grande ecrã é uma arte, porque não incluir na galeria estes primeiros minutos de adrenalina Baby Driver?

Contudo, evadimos por momentos a questão das questões, regressamos a terra firme e contemplamos a mundania destas personagens. Curiosamente este Baby (Ansel Elgort) não é uma personagem, é uma justificação para a musicalidade do filme. Nada contra, mas é nele que somos encaminhados para os lugares-comuns, à tragédia familiar em cenários vistos e revistos por vias de flashbacks ou do romance que se instala como uma “força maior”, sugestivamente terminada como um falso-Bonnie & Clyde. É tudo espectáculo, e tudo a favor deste conceito hollywoodesco de “fazer as coisas”. Baby Driver, pelo lado positivo, assume-se como uma tímida panóplia de nichos pops, de sons libertados em nome da nostalgia e das inúmeras referências cinematográficas que percorrem por enésimas rotações por minuto.

Apesar da sua corriqueira forma, das más decisões que levam a lugares não solicitados e atores como Jamie Foxx e Kevin Spacey a desempenhar os rótulos etiquetados nas suas costuras, este é um filme dirigido com algum coração e sim … com ritmo que baste para nos transportar descontraidamente para a sua postura “live and let die”. Será que no meio disto tudo, Edgar Wright é um Tarantino para geeks? Evitando a questão, que não é a questão das questões, refuto, apesar ser um dos seus trabalhos mais fracos, Baby Driver encara com entusiasmo e ingenuidade o cinema como um veiculo de emoções.