Quinta-feira, 28 Março

«Baywatch» (Marés Vivas) por Jorge Pereira

Numa era em que a nostalgia é utilizada como combustível para uma indústria cinematográfica cada vez mais orientada para a produção em massa de sucessos seriados, era inevitável surgir uma nova versão de Baywatch, projeto televisivo dos anos 80 e 90 que sobrevivia de dois elementos: o corpo escultural das atrizes e o tom “camp” dos enredos e personagens masculinas.

Mas se o objetivo aqui era replicar no cinema a fórmula de sucessos recentes como Agentes Secundários (21 Jump Street), também ele uma adaptação de uma série de culto, o resultado fica mais próximo de um American Pie 5 nas praias californianas com um subenredo policial pateta, do que do filme baseado na série que Johnny Depp protagonizou na década de 80, e que conseguiu sobreviver por si só em duas fitas mais ou menos conseguidas.

Os primeiros minutos destas Marés Vivas mostram isso mesmo. Aos corpos das meninas e meninos que deambulam pelo grande ecrã de forma exploratória, o filme apresenta o slow motion e a forma videoclipe de marca para cativar através de uma nostalgia kitsch a geração que acompanhava a série. Porém, quando chegamos aos textos (fraquíssimos), à linguagem cinematográfica (banal) e às personagens (pouco carismáticas e irrelevantes), o filme assume-se totalmente orientado para uma audiência adolescente moderna, acabando por descambar na típica estrutura de filme de liceu, aqui trasladado para uma praia, onde não faltam os nerds, os populares, e mensagens politicamente corretas de perseverança e responsabilidade.

Repare-se nas personagens de Jon Bass, um totó apaixonado pela nova CJ Parker (Kelly Rohrbach), ou de Zac Efron, uma estrela caída em desgraça que tem de aprender a trabalhar em equipa. Depois temos The Rock, numa fórmula padronizada de herói humilde que tanto funciona aqui como em quase todos os seus filmes de ação, como o recente San Andreas. E olhe-se com atenção para o desastre que é a vilã de serviço, Priyanka Chopra, ou para a forma imbecil como a policia é aqui tratada.

Se Baywatch, a série, era um entretenimento escapista domingueiro sem grandes pretensões (como quase todas as séries do género da sua década), Baywatch (o filme) acaba por não ser nada, pois nunca funciona nem sabe o que quer ser: é uma comédia? Um filme de ação? Um policial com elementos dos dois? Nada. A única coisa que o filme sabe que quer ser é um blockbuster de verão.

Assim, estamos perante um verdadeiro desperdício de tempo e dinheiro e se procuram aqui algo de novo com o mínimo charme ou piada, então há certamente outras coisas melhores para fazer. Como ir à praia.


Jorge Pereira

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