Quinta-feira, 28 Março

«Blackway» (Go With Me) por Duarte Mata

O realizador sueco Daniel Alfredson não é desconhecido em Portugal, já que por cá foi acompanhado o hype da grande Trilogia Millenium (ironia) original, do qual o cineasta realizou as duas sequelas: A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo e A Rainha no Palácio das Correntes de Ar. Esses filmes, se não eram penosos de se assistir era em grande parte devido à personalidade forte de Noomi Rapace a interpretar a personagem mais interessante da trilogia, embora não o suficiente para a salvar das enormes fragilidades cinematográficas com o qual as respetivas obras eram construídas.

Ora, mudar de ares não fez bem a Alfredson e os seus filmes desta fase americana continuam igualmente fracos (é o segundo, depois de O Rapto de Freddy Heineken) e indistintos da concorrência ao da fase sueca. Reencontra-se desta vez com Anthony Hopkins (do anterior O Rapto…) para desenvolver mais um thriller, onde dois homens honestos e uma mulher vítima de abusos sexuais unem-se para procurar o respetivo sociopata do título homónimo (Blackway).

Se o ritmo é calmo e não se esquece das suas personagens (apetece dizer que há aqui influências de alguns dos trabalhos de Fincher, ou não tivesse ele sido o realizador do remake do primeiro volume da mesma Trilogia), Alfredson não apresenta (mais uma vez) um pingo de ideias de cinema, usando e abusando da steadicam, seja em interiores ou exteriores (ah, como é tudo tão mais rápido com estas meninas), planos reiterativos que bem se estão marimbando para o uso da profundidade de campo, da luz e para a construção de um ritmo visual em cada cena.

Já que há aqui tantos momentos à noite, porque não manter o rosto do antagonista em sombras até ao clímax, mostrando-o como uma entidade malévola que as personagens receiam enfrentar? Ou então, porque não optar por filmar a protagonista em contra-picados tentando demonstrar em como ela é a mais valente de todo aquele universo masculino? Há uma série de maneiras para Alfredson construir a sua história pela mise-en-scène, mas parece que esse conceito é desconhecido ao realizador. Ao invés, vêmo-lo a recostar-se à banda sonora, convencidíssimo de que o suspense que não consegue moldar lá surja nos instantes em que é preciso. Não surge e o resultado é um produto chapa 5 altamente dispensável.

Duarte Mata

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