Queria dizer isto devagarinho, de forma a atenuar qualquer indício de hostilidade, mas não consigo, peço desculpas aos mais susceptíveis desde já… Bem, aqui vai. O filme Por Onde Escapam as Palavras faria melhor figura, se não deixasse escapar somente as palavras, mas sim se se deixasse escapar inteiramente de todos nós. Porque não precisávamos de ver isto.

Eis um lixo, visto do ponto vista criativo, artístico, sociológico e mercantil. Uma comédia involuntária que nos remete ao pior que o cinema português possui: a falta de ideias, e, pior, a falta de ideias de cinema. Não é por questões monetárias que a criatividade e a coerência têm de se ver descartadas. Pelo contrário, por vezes é sobre esse signo de apertos financeiros e outras limitações que nascem… eureka!… as ideias. Mas este projeto de Luís Albuquerque é uma omelete sem ovos, de um oportunismo que dói no que requer a citar o “terror islâmico” para nos oferecer um mau pastiche de auto-ajuda emocional.

O argumento, meus amigos, é ele próprio um verdadeiro atentado terrorista. Não acreditam? Vejamos a seguinte situação: um pai, cuja filha foi vítima de um ataque de fazer relembrar os trágicos episódios do Bataclan (Paris, 2015) persegue um dos autores do mesmo. Eis senão que o nosso herói encontra o desprezível vilão barricado num antigo edifício, cercado pela competentíssima polícia. Tiros são trocados entre as duas parcelas, um violento duelo entre as autoridades e o perigoso terrorista ilustra o grande ecrã, enquanto a emoção aumenta no espetador pela incerteza do desfecho. “Sendo o nosso protagonista um mero e vulgar cidadão, como conseguirá ele entrar no edifício?”, pensamos sem aguentarmos tamanho suspense (peço ao leitor que avalie todas as opções possíveis, use a imaginação, para então seguir com a revelação). Ah, “bonita” revelação desta mente ilucidada que é o nosso herói! A personagem entra na dita batalha campal usando… as traseiras. Sim, simplesmente abrindo uma porta descoberta, sem quaisquer vestígios de seguranças! E isto é apenas um exemplo! Um!

Por onde Escapam as Palavras é um palavroso e amador filme, que nos apresenta 90 minutos da pior espécie, desde um enredo cosido e mal escrito, uma estrutura académica (mas, vá lá, de um academismo de quem saiu duma escola de cinema) até a um elenco ruinoso, onde cada ator é pior que o anterior. Sabemos que com a vinda do digital, qualquer um pode fazer cinema, mas fazê-lo não aplica apenas a vontade. Há que possuir o talento, a forma e a ideologia. Luís Albuquerque não possui nem uma coisa, nem nenhuma das outras, o que faz desta obra somente mais um “pecado fatal” [ler crítica] neste nosso meio cinematográfico.

Peço desculpas leitores pelo meu tom agressivo, visto que não tem a culpa disto. É que, ao contrário do título do filme, as minhas palavras não somente escapam… têm mesmo um objectivo definido.