Para Arnaud Desplechin, em algumas das suas notas de recomendação, Ismael’s Ghosts é um ensaio fílmico sob o olhar atento à natureza do pintor Jackson Pollock, nuances e teores todos eles divergentes que se fundem, dando lugar a um só organismo, complexo, mas um só. Infelizmente, o que o realizador diz não se escreve, porque este seu novo filme, que tem a honra de abrir a 70ª edição do Festival de Cannes, é uma quimera defeituosa.

Uma obra que não faz jus ao seu criador e que conduz o espectador a um espelho deformado que distorce todo o elo narrativo da fita. Saímos com a sensação de termos assistidos a 5 filmes diferentes, passando pelo policial com leves “piscadelas” a Le Carré, ao romance parisiense, e até ao humor involuntariamente burlesco. Infelizmente, Desplechin não desenvolve uma coluna vertebral consistente, nem sequer tenta transvestir a palete de cores, pois nenhum dos tons se mistura verdadeiramente. O que este se dispõe é, através dos mais variados lugares-comuns, a apresentar um elenco francês all-star, onde nenhum deles verdadeiramente entrega, para além dos seus reconhecidíssmos egos, um filme que não esteja em pleno estado de malabarismo, não seja pretensioso e igualmente despersonalizado.

Pollock tinha personalidade, aliás, tal talento é reconhecido nas suas mais variadas pinturas expressionistas, e em todo o caso era um artista em constante face de superação. Desplechin não. Ele é um burguês que explicita cinema burguês sem nada de novo para embicar com o vento. Do mesmo jeito que usufrui das transposições para trazer um artificialismo visual (talvez o melhor que o filme tem para oferecer), ou da oportunidade que tem para citar Bob Dylan e o seu It Ain’t me baby.

Bem, como alguém já dizia … peças separadas, sem conexão, nem infusão. Será este o pior filme de Desplechin?