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«Viejo Calavera» (Dark Skull) por Roni Nunes

O longínquo eletrohouse dos Kano embala bolivianas do século XXI. Elder (Julio Cesar Ticoa) tenta beijá-las, mas elas não estão interessadas. Ele terminou de chegar à discoteca depois de ter assaltado um transeunte. Italo-disco/Bolívia/Elder – a delícia kitsch para a abertura de “Viejo Calavera”, longa-metragem de estreia de Kiro Russo.

Tempos depois, a quase quatro mil metros acima do nível do mar uma alma penada chora pela montanha o filho morto. Sombras movem-se nas montanhas gélidas onde há criação de lhamas e uma pequena cidade sobrevive ao redor da mina de estanho. Huanuni.

Elder tem de voltar para lá. Ele é um dos protagonistas de filme mais moralmente inúteis já vistos por aí: passa a vida bêbado, a cometer furtos e a arranjar confusão. Sua tia da cidade já não o atura e, ao voltar para Huanuni, vai parar as catacumbas da cidade – a substituir o seu pai recém-falecido e, diferente dele, muito admirado pelos outros mineiros.

Esse filho pródigo vai perambular pelos labirintos sufocantes das minas. Com a sua displicência e uma incrível atitude “que se f* tudo e todos”, embriagado a uns bons quilómetros abaixo da terra firme, a sofrer acidentes irresponsáveis, ele não pode despertar nada melhor do que o ódio dos “compañeros”. Seu padrinho Francisco diz: “filho, toda a gente tem que tomar um rumo um dia” – palavras que entram a 10 e saem a 1000.

Os mineiros do mundo real ajudaram a financiar o filme do realizador boliviano Kiro Russo – a que aprendeu a fazer cinema na Argentina. Eles próprios estão lá, como atores não profissionais à boa maneira neorrealista, a protestar contrato o completo descaso do Estado para com uma vida dura.

O “dark” do título internacional (“dark skull”) é a palavra para a trajetória de Elder e seus colegas – a moverem-se (com o contraponto na imagem pela cinematografia de Pablo Paniagua) num território pleno de dificuldades laborais e existenciais. O filme peca, no entanto, pela história demasiado obtusa contada por Russo e por seu coargumentista Gilmar Gonzáles – onde nota-se que o maior esforço (e talento) está investido na composição visual e sonora.