Cansaço … é o que sentimos no final desta peregrinação. Simplesmente cansaço! Mas aqui não é um defeito, é uma virtude, o sentimento pretendido neste novo rol de realismo à lá Canijo, onde uma vez mais são as suas atrizes a liderar o processo criativo, mulheres que mimetizam o real e não o oposto. É a continuação do seu trabalho, os métodos experienciados para atingir a natureza-matriz do ator. O que os move? O que os faz atingir esse patamar? O que os torna, não inconfundíveis, mas sim confundíveis com o cenário envolto?

João Canijo tem-se submetido a essa experiência desde que a noite tornou-se escura [Noite Escura, 2004] e aí, gradualmente, tem avançado com uma aproximação ao realismo e ao mesmo tempo improvisando e sofisticando o processo de direção de atores. Foi com o É o Amor que a ideia de cruzamento surgiu, a do conflito entre a ficção, indiciada por “infiltrados” numa realidade que não lhes pertence, e do lado documental, o realismo aprisionado na lente e moldado para as infinidades da interpretação e reinterpretação. Nesse jeito, Fátima funciona nesse apoderamento do primeiro ponto, em constante abalo com o segundo. A veia documental encontra-se presente no percurso, na jornada replicada que se evidencia como um obstáculo de capacidades. As capacidades, por sua vez, encontram-se nas atrizes, subjugadas ao método de improvisação quase “strasbergiana“.

A peregrinação torna-se então num coliseu de gladiadoras, atrizes que rivalizam egos e batalham pela atenção do espectador. Mas nem todas as atrizes são capazes de sobreviver neste “circo de feras”, nesta estrada sem fim que assume como o palco de improbabilidades. Apenas duas (Anabela Moreira e Rita Blanco) concentram forças para a “pedalada” e é nelas que nasce um conflito tardio (dramaticamente falando), que atingirá um estado de ebulição de forma gloriosa. A satisfação surge aí. As personagens estão criadas e nessa frecha conseguem por fim separar-se da atriz num processo doloroso, demoroso e dispendioso que resumiu toda esta experiência. A da interpretação, a da matéria de que são feitos os atores e, por fim, do espectador, capaz de testemunhar esta instalação “sob milhas”.

Ao contrário do que se julga, Fátima não é um filme religioso. Não no sentido católico do desfecho desta jornada. Nada disso. A religião é apenas evidenciada na composição das personagens e na crença mutua, das atrizes em relação a Canijo, e de Canijo em relação às atrizes. O embate final é um atalho para Fátima, o refúgio religioso que se converte na perfeita união de espírito e da cinematografia que Canijo consegue emanar através de imagens assombrosas!