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«Un Bacio» por Jorge Pereira

Para além das notórias influências da Nouvelle Vague – em especial Jules et Jim de François Truffaut e Bande a parte de Jean-Luc Godard – é no cinema independente norte-americano (Jovens em Delírio vem à cabeça) que este Un Bacio vai buscar muito do seu ambiente, temáticas e estilo visual, com uma natural pitada de Gregg Araki (The Doom GenerationMysterious Skin) na apresentação de um triângulo amoroso entre três amigos – Lorenzo, Blu e Antonio, Na base de tudo está um livro escrito pelo próprio cineasta, Ivan Cotroneo, o qual se inspirava livremente na história real de Lawrence “Larry” Fobes King, um adolescente norte-americano assassinado aos 14 anos.

Lorenzo é gay, Blu é apelidada de promiscua (as paredes da escola estão cheios de insultos a ela), e António é uma pessoa com dificuldades de aprendizagem (um “burro”, como ele o diz).

Todos eles têm histórias dramáticas no seu percurso pela vida. O primeiro viveu numa casa de acolhimento até que aos 16 anos finalmente encontrou dois pais adotivos extremamente liberais, com o patriarca (Thomas Trabacchi) a canalizar através do grande ecrã uma performance a fazer lembrar um misto de Nanni Moretti com Christopher Waltz. Já Blu tem problemas sérios em casa, com uma mãe escritora que procura que alguém publique o seu trabalho, e um pai que sente que podia ser muito mais. Finalmente, António tortura-se constantemente pela morte do irmão e das exigências familiares porque ao contrário do falecido não tem particular aptidão para os estudo e para a caça, mas sim para o desporto.

Marginalizados no liceu, o trio inicia uma jornada de amizade muito particular, que revelará um drama de liceu dos tempos modernos com queda para o musical (há Glee e Lady Gaga por aqui e por ali) e alguns rasgos de animação colorida (tão presentes nas comédias românticas asiáticas) no meio do cinema em imagem real.

Construído na forma clássica dos três atos, Un Bacio nunca deslumbra mas tem o dom de nos agarrar com facilidade a personagens que podiam viver em qualquer parte do globo, até porque as temáticas do bullying, da homofobia, do machismo (muitas vezes a vir das próprias personagens femininas) e da exclusão social são ainda estupidamente inerentes à sociedade.

O Melhor: O retrato universal dos problemas juvenis
O Pior: Os lugares comuns


Jorge Pereira