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«Out of Furnace» (Para Além das Cinzas) por Duarte Mata

Talvez tenha sido o Óscar de Casey Affleck a permitir a estreia do segundo filme de Scott Cooper (entre Crazy Heart e Black Mass) com quatro anos de atraso, Para Além das Cinzas. E confirmam-se as duas suspeitas arraigadas do primeiro filme: primeira, que o realizador sabe escolher um elenco; segunda, não mais que isso.

Se há quem ouça ecos d’O Caçador de Cimino (onde nem falta o abate de um veado) ou até mesmo do The Fighter de O’Russel (onde nem falta Christian Bale), neste conto moralista sobre dois irmãos, o primeiro operário de uma fábrica metalúrgica, o segundo um soldado ex-combatente do Iraque traumatizado, feito lutador de ruas, ambos incapazes de se reintegrarem em plenitude na sociedade de onde se viram renegados, os mesmos ouvintes poderão reparar no academismo com que Cooper desenvolve cada uma das cenas, maioritariamente filmadas manualmente e com aquela reiteração grave de planos em formato close-up que passou a minar o cinema americano.

Mas começámos por falar do elenco que vai dos já referidos Bale e Affleck ao veterano Sam Shepard, passando pelos bravos Forest Whitaker e Willem Dafoe. Poderia ser o suficiente para fazer um bom filme, mas tamanha expetativa resulta mal, e se os dois primeiros se encontram em piloto automático, reaproveitando traços de personagens que já exploraram mais a fundo em filmes passados, os três últimos são desaproveitados (Whitaker, então, nem personagem tem) em prol do antagonista mafioso interpretado por Woody Harrelson, num registo maneirista desinteressante e, francamente, cansativo.

O melhor está mesmo na velha lição de valores sobre a importância da família e da dignidade que é preciso preservar nela, por e apesar de tudo (chega-se até ao ponto de justificar a autojustiça e o vigilantismo com estes argumentos), mas que nem por si é novidade. Precisava de mais tempo de filme num ritmo menos açodado, um realizador mais arguto e um argumento melhor trabalhado. Sem nada disso, resulta um produto desapaixonado, no formato da indústria e indistinto da concorrência.

O melhor: O prazer em ver um tão distinto leque de atores no mesmo filme; a moral com que encerra.

O pior: O formato vulgar e recalcável da realização.

Duarte Mata