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«The Idol» (O Ídolo) por Jorge Pereira

Depois de O Paraíso, Agora! e Omar [1], dois filmes intensos que seguem algumas personagens marcadas pela situação política na Palestina, Hany Abu-Assad volta à mesma temática, mas numa forma mais ligeira e orientada em se transformar num crowd pleaser para as massas.

O Ídolo (The Idol), um drama cinebiográfico sobre um residente da Faixa de Gaza, Mohammed Assaf, que ganhou notoriedade após conquistar o Arab Idol  (O “Ídolos” na sua versão Árabe) em 2013, começa em 2005, quando o jovem, juntamente com a irmã e mais dois amigos, começam a sonhar em cantar, desencantando alguns esquemas que os põem em apuros. No processo, a irmã revela ter um problema nos rins, cabendo ao mano começar a cantar em todas as oportunidades possíveis de forma a juntar dinheiro para o tratamento. Daí o filme mostra a evolução do pequeno cantor, o qual se tornou um símbolo de um povo marcado por constantes derrotas (militares, políticas, humanas) e que a passos largos caminha para a extinção.

No meio disto tudo o que surpreende por aqui é que Abu-Assad mostra-se menos mordaz, mais recatado, e profundamente esquemático na forma como nos entrega a fita. Muitos defendem que esta maneira mais comercial e menos polémica levará mais espectadores a terem a percepção da vergonha civilizacional que se passa por lá, mas a verdade é que ao transformar as dramáticas constrições de um povo em humor escapista faz a mensagem perder-se pelo meio.

Exemplo disso é a primeira prestação do cantor via Skype para o programa. Se fica inerente que não o pode fazer ao vivo porque as pessoas em Gaza vivem numa situação de Apartheid encapotado, onde os recursos mais básicos (água, eletricidade, mobilidade) dependem de outro território, o resultado final da cena leva apenas quem assiste a focar-se num episódio caricato de Mohammed e não de um problema global de milhares de outros que vivem com ele.

Outro exemplo da pouca incisão do argumento é a forma como o realizador desfoca a ação dos grupos religiosos e políticos palestinos dominantes em Gaza e que caracterizam a música como um trabalho do Diabo, algo que foi exposto de forma bem mais demarcada numa pérola do cinema documental chamada Sling Shot Hip Hop [2], e que acompanha Rappers na Palestina que, para além de terem de lidar com Israel devido ao conteudo das letras, temem a ação de organizações palestinas como o Hamas que os vê como porta-vozes de um estilo musical propagandista norte-americano.

Mas o filme tem ainda outro problema. Esta espécie de Nasceu uma Estrela na Palestina, apesar de ter fulgor, ritmo e verdadeiras emoções quando conta a infância e a adolescência do rapaz em Gaza, torna-se na mais banal e superficial das experiências quando atravessa a fronteira para o Egipto e começam as provas no programa televisivo.

Por tal, e apesar de Abu-Assad ter sempre a noção de ritmo e nunca cair em exageros melodramáticos, nunca se consegue ir mais longe que uma amostra tímida da história de um rapaz e do povo que vibrou com ele.

O Melhor: Ser um Crowd Pleaser sem cair na manipulação básica
O Pior: Demasiado morno e pouco incisivo


Jorge Pereira