Quarta-feira, 24 Abril

«A Dog’s Purpose» (Juntos para sempre) por Jorge Pereira

No início do ano, A Dog’s Purpose (Juntos para sempre) chegou às machetes devido a um vídeo onde um cão utilizado nas filmagens era abusado de maneira a conseguir-se filmar o que se pretendia. A PETA mobilizou-se e apelou ao boicote ao filme. A imprensa explorou até aos limites os abusos. A antestreia de luxo do filme foi cancelada. O produtor veio a público dizer que ignorava tais procedimentos e as estrelas do filme, em particular Dennis Quaid, desdobrou-se em entrevistas a dizer que nunca assistiu a quaisquer maus tratos a animas durante as filmagens. O filme sofreu nas bilheteiras e nem as notícias de um estudo independente que afastou o cenário de maus tratos e confirmou uma edição manipulativa do vídeo alteraram a imagem do filme para o grande público.

Esquecendo a polémica, e pensando no resultado final enquanto obra cinematográfica, as coisas não melhoram. A Dog’s purpose é um melodrama maniqueísta e esquemático que procura empatia junto de um público sensível aos “patudos”, não conseguindo ir além da mensagem panfletária do «adotem animais».

Construído sob o olhar de um cão que vai observando a vida dos seus donos e procurando o seu sentido da vida (o propósito) ao longo de várias décadas, o filme apresenta uma amalgama de histórias que não têm nada de inovador para além do seu conceito de reencarnação canina. Sim, acompanhamos um cão desde os anos 50 até aos dias de hoje, que morre e reencarna sistematicamente, sempre como um cão, e quase sempre com outra raça.

E apesar de vermos personagens com os mais distantes panos de fundo e trabalhos, todas estas são, no mínimo, simplórias e superficiais, caindo-se no último tomo no mais lamecha dos romances ao estilo Nicholas Sparks.

Na verdade, o que realmente interessa aqui é a construção de um drama familiar para as massas onde se propaga também a men sagem que a solidão é um inimigo e a tarefa dos cães é ajudar os seus donos a ultrapassar os seus problemas quotidianos. Ou seja. O objetivo de um cão é ser dependente do homem, pois sem ele nunca será feliz.

Vindo de Lasse Hallström, que já tinha realizado o tocante Hachiko, A Dog’s Purpose revela-se assim um objeto extremamente limitado, fundamentalmente moralista, e mesmo para um filme de “domingo à tarde” é profundamente pobre.

O Melhor: O conceito de reencarnação canina
O Pior: Manipulador


Jorge Pereira

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