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«Le Voyage de Fanny» (A Viagem de Fanny) por Jorge Pereira

É inevitável mencionar Un sac de billes (1975), de Jacques Doillon, quando falamos deste Le Voyage de Fanny, de Lola Doillon, filha do cineasta mencionado, o qual dedicou grande parte da sua cinematografia aos mais jovens (A Rapariga de Quinze Anos, O Pequeno Criminoso, Ponnete).

Lola, aqui na sua terceira longa-metragem, que abordou a adolescência em Et toi, t’es sur qui? (2007), segue aqui os passos do pai numa reconstituição baseada em factos verídicos da França ocupada, pondo em atenção a história real de Fanny Ben-Ami, uma menina de apenas 12 anos que juntamente com um grupo de crianças, se aventura pela França ocupada numa tentativa de conseguir escapar aos nazis e chegar à Suíça.

Construído sob o ponto de vista das crianças e feito particularmente para crianças, numa mistura de drama, thriller e filme de aventura, a fita reserva-nos o rol de dificuldades e contrariedades que o jovens passaram no seu caminho, como lidar com o abandono forçado dos pais, a experiência de viver num orfanato, a fuga aos em circunstâncias perigosas, a perseguição dos soldados alemães, ou o medo de encontrar colaboracionistas franceses com o regime do Fuhrer.

Esse olhar adocicado e ingénuo, nunca é capaz de escapar e de envolver o espectador para além da superficialidade, das situações perigosas, geralmente resolvidas com maior ou menor dificuldade principalmente porque quase todos os adultos no filme são apresentados como pouco confiáveis, ou pouco dispostos a ajudar, deixando os mais pequenos à sua mercê.

Apesar do esforço e da dedicação da cineasta, não há aqui nada profundamente original ou que dê identidade e singularidade à fita, que apenas consegue transmitir emoções do senso-comum, algo que naqueles tempos parecia estar completamente corrompido.

Ainda assim, há mérito em Lola Doillon, nem que seja por pegar num tema tão sensível e intenso sem necessitar cair forçadamente no drama exploratório e manipulador (da lágrima fácil) como As Crianças de Paris, de Rose Bosch.


Jorge Pereira