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«100 metros» por Jorge Pereira

Boas intenções nunca fizeram grandes filmes e 100 metros, uma comédia dramática de superação ao estilo americano (a produção é luso-espanhola), visita somente os lugares comuns do género, traduzindo-se num espetáculo onde a mensagem que se quer passar é a sua única e verdadeira qualidade.

Baseado na história real de Ramón Arroyo, um homem que aos 32 anos é diagnosticado com Esclerose Múltipla, e que, contrariando todos os prognósticos, decide participar numa prova conhecida como Iron Man (e que consiste em fazer 3,8 km de natação, 180 Km de ciclismo e 42 Km de corrida), 100 metros conta no elenco com uma dupla de sucesso no cinema espanhol – Dani Rovira e Karra Elejalde – e que aqui mostram mais uma vez uma boa quimica no grande ecrã, embora pareçam demasiadas vezes agarrados às personagens tipo (e implicantes uma com a outra) que já apresentavam na saga Ocho Apellidos (Vascos [1] & Catalanes [2]).

Ainda assim, a dupla – mais carregada de drama que o costume, e que até faz lembrar a relação entre Rocky Balboa e o seu treinador no primeiro filme da saga Rocky– consegue funcionar simbioticamente, até porque são duas pessoas de certa maneira semelhantes e que se vão ajudar mutuamente: uma tem fisicamente uma doença generativa; o outro diz que a vida em si é degenerativa, encontrando-se atualmente sem razão para viver. A eles junta-se no elenco Alexandra Jiménez e uma Maria de Medeiros resumida a um interesse amoroso caído do céu (diretamente para uma praia) da personagem de Elejalde.

Há ainda que mencionar alguns papéis secundários atribuídos a pessoas reais que têm a doença, mas em vez de estas surgirem em cena num estilo mais documental e realista, são formatadas pelo plano/fórmula do cineasta, o que torna tudo muito mais previsível, seja no drama, seja no humor, seja na linguagem cinematográfica.

Perde-se assim uma boa oportunidade para fazer mais que um filme “feel good” que se rende simplesmente ao facilitismo e ao sentimentalismo. E falta um verdadeiro retorno artístico – enquanto Cinema – como existia em trabalhos com uma brutal carga dramática como esta, como O Escafandro e a Borboleta.

Marcel Barrena, o realizador, sabe que conseguiu melhor no seu documentário Món Petit, de 2012, no qual analisava mais uma daquelas “histórias maiores que a vida“, sobre Albert Casals, um jovem numa cadeira de rodas que não se vê impedido de cumprir o seu sonho e viajar pelo mundo.

O Melhor: Ramón Arroyo e a sua história. A mensagem de esperança e resiliência
O Pior: Os lugares comuns, o sentimentalismo à força


Jorge Pereira