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«Indignation» (Indignação) por Jorge Pereira

 

Numa entrevista à BBC em 1959, o filósofo Bertrand Russell deixou dois conselhos para o futuro da humanidade: um de cariz intelectual, que se focava no homem olhar somente para os factos que tem pela sua frente, e não naquilo que gostaria que estes representassem; e um moral, que primava na valorização do amor e da tolerância perante o ódio.

É importante mencionar Russell ao falar deste filme, pois o nosso protagonista evoca o filósofo e escritor (Nobel da literatura em 1950) a certa altura, mostrando que gere a sua vida na mesma linhagem desses pensamentos.

Baseado no romance de Phillip Roth, o qual já tinha visto adaptado ao cinema alguns dos seus livros, como Culpa Humana, Elegia e Pastoral AmericaIndignation é uma história de amadurecimento pessoal de Marcus (Logan Lerman), um jovem judeu que vive numa sociedade repressiva “religiosa e de bons costumes” nos anos 50 nos EUA. Quando na faculdade assume uma relação com uma rapariga (Sarah Gadon) com um pensamento muito mais livre do que aquele que a sociedade incute, uma série de pressões (família, colegas, a instituição) instalam-se na sua vida.

Se a matéria prima deste trabalho é extremamente recompensante, levando-nos a pensar que podiamos ter aqui um novo Clube dos Poetas Mortos, a verdade é que, à parte das vibrantes e marcantes discussões entre Marcus e o reitor (Tracy Letts) na universidade onde estuda,  todo este filme se manifesta inconsequente e estranhamente tépido.

James Shamus, conhecido argumentista e produtor dos filmes de Ang Lee, sabe gerir todos os elementos técnicos do filme, com particular foco para a direção artistica, mas nunca consegue mais que uma frouxa adaptação que só encontra real impacto nos diálogos do material original. Talvez a abordagem à personagem de Marcus, um jovem profundamente revoltado mas demasiado contido e passivo, precisasse ser mais incisiva e mais flamejante do que apenas descarregar pensamentos e ideologias em discursos muitas vezes prolixos e “complexos” para gente tão tacanha e mesquinha.

Assim, até nos preocupa alguém pragmático como Marcus nestes tempos tão conservadores, mas isto num sentido de um olhar para trás global e não com os olhos postos nesta personagem e nesta história.

O melhor: Os diálogos entre Marcus e o reitor
O Pior: Demasiado morno e inconsequente


Jorge Pereira