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«Denial» (Negação) por Jorge Pereira

A negação do Holocausto, defenido por quem o faz como revisionismo histórico, e contra-atacado como puro antissemitismo, assumiu nas últimas décadas uma nova força, ao ponto das autoridades criarem legislação que o proíbe em paises como França, Austria e Roménia.

Denial (Negação) acompanha um dos casos mais famosos dos anos 1990-2000, quando o “especialista na Segunda Guerra Mundial” e negacionista David Irving levou a tribunal a Penguin Books, editora da norte-americana Deborah Lipstadt. Irving acusou Lipstadt de calúnia e difamação, protestando que as afirmações desta no livro Denying The Holocaust estavam a prejudicar a publicação das suas obras e o descareditavam perante os “seus pares”. Dadas as particularidades da justiça inglesa, Lipstadt teve de enfrentar o tribunal, e através da sua defesa provar que o Holocausto realmente aconteceu.

Construído de forma académica como um típico drama de tribunal, Negação tem na temática a sua força, mas nunca consegue abandonar as limitações de parecer um objeto televisivo formatado e previsivel, no qual o realizador Mick Jackson parece ser o principal responsável,  já que apesar de ter projetado algumas obras para o Cinema, como O Guarda-Costas, grande parte da sua filmografia é para TV e parece já moldado para o pequeno ecrã. Talvez por isso esta fita tenha os mesmos problemas de Página Oito, um thriller também trabalhado pelo realizador Mick Jackson e pelo argumentista David Hare, mas que acertadamente se definiu automaticamente como um telefilme.

E se a temática revela-se cada vez mais fulcral numa Europa que cada vez mais dá força à sua extrema-direita e ao populismo, a forma como tudo é apresentado nas telas revela-se pouco inspirada, não indo além de uma “homenagem” a Lipstadt e a todos os sobreviventes do Holocausto que têm de reviver o processo novamente com a sua negação sistematica (Irving é apenas um dos negacionistas).

Ainda assim e apesar disto tudo, há que elogiar o trabalho dos atores, em particular de Timothy Spall, que na sua representação de David Irving consegue superar uma Rachel Weisz em “piloto automático” e um Tom Wilkinson limitado ao seu estatuto de ator secundário por aqui.

O Melhor: A temática, os atores
O Pior: Nunca sai do drama de tribunal pueril


Jorge Pereira