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«Catfight» por André Gonçalves

Enquanto se debate a crise de originalidade em Hollywood, sendo a última acha para a fogueira a respescagem do universo de “Matrix“, é bom saber que ainda há quem tente construir novos quadros narrativos. Para evitar insuflar expectativas: não, o artista multifacetado Onur Tukel (que para além de realizar e escrever filmes como este Catfight, ainda encontra tempo para ser pintor) não é propriamente a segunda vinda de Charlie Kaufman. Mas Catfight é ainda assim dos filmes mais originais saídos do solo norte-americano no último ano. Para começar, é difícil imaginar antecedentes para este briga de mulheres em três atos; talvez o que mais venha à memória, dado o “nonsense” assumido aqui acompanhado de uma banda sonora clássica, é um desenho animado dos Looney Tunes.

Veronica Salt (Sandra Oh) e Ashley Chambers (Anne Heche), ex-colegas de faculdade, são as arqui-inimigas aqui; são no fundo reflexos uma da outra, como qualquer boa história de quadradinhos – e daí que o filme puxe literalmente (e exaustivamente, diga-se) desse tema, em dois atos consequentes, reversos um do outro. Uma é artista; a outra não entende o valor da arte; uma usa o conflito no Médio Oriente para se revoltar artisticamente, a outra deixa-se levar pelo interesse financeiro do seu marido neste conflito; mas ambas acabam por ser mulheres solitárias mesmo quando acompanhadas de um núcleo familiar: Veronica tem um marido e um filho (que, para pesadelo da mãe, está com intenções de ser artista como a sua inimiga), Ashley tem uma namorada com quem planeia engravidar (Alicia Silverstone, igualmente bem retornada).

Oh e Heche lutam corpo a corpo três vezes em três cenários completamente distintos, e se o resultado do confronto aponta para um empate técnico (quem vir perceberá), diria que é uma vitória para ambas as atrizes, que fazem os possíveis com personagens de “desenho animado” neste regresso ao grande ecrã. Tukel demonstra ter aqui um toque especial para a comédia negra, só desempata para a negativa quando não percebe que não pode haver espaço para qualquer drama quando a própria morte de personagens adjacentes é jogada como uma grande piada. Ainda assim, o seu filme nunca perde o interesse na sua hora e meia de duração, e merece sem dúvida uma espreitadela de todos.

O melhor: o efeito “cartoon” (quando é divertido)
O pior: o efeito “cartoon” (quando tenta ser algo mais do que pode ser)


André Gonçalves