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«The Anthem of the Heart» (O Hino do Coração) por Jorge Pereira

As palavras magoam e temos de ter muito cuidado com o que dizemos. Esta é uma das frases chave e espécie de “grito de guerra” deste Hino do Coração, um trabalho de animação de Tatsuyuki Nagai que abriu a competição da Monstra – Festival de Animação de Lisboa.

No filme acompanhamos uma jovem, Naruse, que após um trauma de infância, ligado a algo que ela disse e que levou os pais a separarem-se, não pronuncia mais nenhuma palavra. Tudo ganha um novo impacto quando ela é uma das alunas escolhidas na sua turma para participar num evento para a comunidade local. Com ela nessa tarefa estão mais alunos, todos eles que se auto-reprimem e escondem as palavras e sentimentos que devem e querem transmitir.

Este é um filme sobre traumas infanto-juvenis e como eles são capazes de ditar a evolução da nossa personalidade enquanto crescemos, havendo em especial um foco na ansiedade, na desagregação familiar e na marginalização social na adolescência.

Apesar de abordar os temas com alguma sensibilidade, fazendo até lembrar Whisper of the Heart em alguns pontos, o filme perde-se por diversas vezes naquilo que quer transmitir, indo e vindo entre a realidade e o conto de fadas, tornando toda a experiência menos incisiva e mais abstrata sem o devido retorno artístico.

Um desenlance bastante artificial, uma queda para o drama de fazer chorar as pedras da calçada e uma tentativa de trilhar pelos campos do musical com demasiados altos e baixos (O Feiticeiro de Oz é referência) acabam por colocar Hino do Coração no purgatório das animações com mais boas intenções que resultados, sendo caso para dizer que o filme perdeu a sua voz a meio caminho.

O Melhor: A temática, a reflexão de problemas da sociedade japonesa e dos seus adolescentes
O Pior: O filme perde-se muitas vezes naquilo que quer dizer. Falta de incisão e foco.


Jorge Pereira