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«Médecin de campagne» (Médico de Província) por Jorge Pereira

Depois de Les Yeux bandés e Hippocrate, o médico transformado em realizador Thomas Lilti regressa às salas com mais um drama onde a medicina e quem trabalha com ela voltam a ter grande destaque.

E se no seu filme anterior, Lilti centrava a sua atenção em dois médicos a dar os primeiros passos num hospital urbano regido pelas limitações orçamentais e humanas, aqui viaja-se até ao campo, às profundezas do interior gaulês, para fazer um estudo notável de uma personagem em vias de extinção: o médico de provincia – que vai muito além das tarefas médicas.

A liderar o elenco encontramos um peso pesado do cinema francês, François Cluzet, ele que tanto sucesso teve nas telas ao desempenhar o papel de doente com necessidades especiais em Amigos Improváveis. Aqui, a sua personagem está também rodeada de dramatismo, até porque logo no início ficamos a saber que tem um tumor na cabeça inoperável, algo que o irá deixar incapacitado de exercer a sua profissão. Entra então em cena Marianne Denicourt, uma atriz que já tinha participado em Hippocrates e que deixou as urgências na cidade para assumir o papel de médica na região interior.

É indiscutivel que Médecin De Campagne tem no seu duo de protagonistas e no seu argumento a delicadeza e a sobriedade necessária para nos entregar uma série de histórias tocantes que nunca entram no campo do drama chorão ou da suprema condescendência.

Ao invés, Lilti varia entre o drama, a comédia e o romance e consegue expressar na sua obra um humanismo que tantas vezes encontramos no trabalho de Ken Loach e Nanni Moretti. O facto do realizador recorrer à população local para o seu elenco, enriquece toda a experiência e tinge todo o trabalho com um toque documental que oferece uma maior espessura.

E embora seja difícil fugir aos clichés de personagens marcadas pelo cancro, a verdade é que Lilti consegue sempre suprimir qualquer melodramatismo, acabando por entregar ao espectador uma história acima de tudo comovente, engrandecedora e repleta de uma compaixão rara no cinema comercial dos dias de hoje.

O Melhor: O humanismo e a fuga ao melodramático
O Pior: Cai em alguns clichés


Jorge Pereira