Quinta-feira, 28 Março

«Power Rangers» por Hugo Gomes

Qualquer indicio de algo vindo do universo de Power Rangers é por si só difícil de ser levado a sério, quanto mais uma longa-metragem cuja palavra de ordem é … a seriedade. A esta altura do campeonato, a existência de uma réstia de faísca dramática de um Transformers é mera miragem. É então que, para contrariar a “tradição”, entra este novo franchise com tudo aquilo que sempre questionamos existir no cinema blockbuster meramente adolescente:  enredos teens com robôs alienígenas – uma fórmula aproveitada até à exaustão na cultura popular nipónica.

Aliás, o Japão foi o país de origem deste reciclado programa chamado Power Rangers. Pois, só que não altura chamavam-se Super Sentai e eram vistos como uma forma artesanal de “colar” jovens ao ecrã, e bombardeá-los com um fuinha “monster of the week“. Quanto aos americanos, os Power Rangers, a popularidade atingiu o seu pico mas hoje eles são vistos como objetos kitsch, como uma recordação da infância.

Mas será que para isso merecíamos algo como este filme, negro, pretensioso e de ideias do formato industrial? A resposta é mais que previsível, porém, se existe, há que justificar a sua existência. Certo?

Pois bem, a primeira parte é algo – não sei se devo mencionar tal palavra, mas cá vai – promissora, com um início cuidadoso em colocar as personagens nos seus devidos lugares. O processo encontrado para tal foi ao recitar John Hughes e o seu Breakfast Club. E a ação que encontra simpatia pela câmara de mão e pela chamada crash camera, auferindo um sentimento de cinema fora de estúdio. Até aqui, o filme engana bem os seus propósitos mais primitivos.

Mas tudo acaba cedo. Os nossos adolescentes danados por estereótipos e clichés cedem à preciosidade dos poderes alienígenas de Zordon, um talkhead (na sua forma mais literal) encarnado por Bryan Cranston que promete maravilhas em troca de responsabilidades. Lá vamos nós com o “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades“.

Há que proteger o Mundo da iminente destruição e para isso, para os nossos cinco jovens o objetivo é treinar duro e duro … por 11 dias, obviamente, condicionados a uma montagem musical para poupar o tempo que sobra. Elizabeth Banks entra em cena e rouba o espetáculo com a sua vil caricatura de Rita Repulsa. Sim, esta é a grande vilã de Power Rangers,  que por si já era uma paródia às figuras antagónicas, mas que encontra nesta nova versão um equilíbrio entre o sombrio e o show off.

Mas se Banks vale o preço do bilhete, já o terceiro ato, uma desculpa para inserir-se no desonesto “ao serviço dos fãs“, onde cada plano soa como um “tiro ao lado” em termos circenses. É tudo igualmente vistoso, mas na sua igualdade tudo se resume de A para B em questões de argumento, com um macguffin impaciente servindo de nota para uma saga em pré-construção. Como os produtores são atenciosos em olhar para o horizonte, perdemo-nos então entre climaxes anoréticos, personagens sofríveis, descartáveis e easters eggs para dar brilho aos olhos dos fãs (sim, temos cameos de alguns membros da velha equipa).

But who cares! Porquê encararmos como houvesse muito mais num filme baseado em Power Rangers? Dean Israelite, que parece ter impressionado os produtores com o Projecto Almanaque, teve essa iniciativa. Não o vamos julgar por isso, mas tal como os dez mandamentos, existem leis incontornáveis de como fazer um espetáculo à lá Hollywood para render globalmente (e não estamos a falar só do filme, existe ainda o merchandise). No final de contas, Power Rangers não é diferente de muitos filme que também respeitam as regras dos blockbusters.

O melhor – Elizabeth Banks
O pior – O terceiro ato sofrível e completamente dependente do “ao serviço dos fãs”.

Hugo Gomes 

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