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«Edge of Seventeen» por André Gonçalves

Quando Nadine, uma adolescente inconsciente do seu potencial, se dirige um dia ao seu professor, tentando desculpar-se com a morte do pai, quando este morreu efetivamente há já alguns anos atrás, e este mostra um calendário sobre o período limite sobre o qual aceita a morte de um parente próximo como justificação, essa é precisamente a grande “gaffe” do filme e um breve resumo sobre o que este Edge of Seventeen encerra: um estudo sobre o processo de luto contínuo na adolescência e as consequências que isso pode acarretar numa etapa já de si difícil para qualquer jovem.

Estando a ser encarado como um digno sucessor, quer da comédia de adolescentes dos anos 80 popularizada por John Hughes (Sixteen Candles, Pretty in Pink), quer por iterações posteriores (como Clueless de Amy Heckerling, ou Mean Girls de Mark Waters), Edge of Seventeen tem, com as devidas distâncias, matéria suficiente para também ser objeto de culto de um nicho de mercado – nomeadamente, e principalmente, parece um filme talhado para todas as Nadines com que nos cruzamos todos os dias.

Kelly Fremon Craig, na sua primeira aventura pela realização, adota um ou outro lugar-comum, mas no cômputo geral, consegue subvertê-los e gerar aqui uma linguagem que justifique atenção. O seu argumento dinâmico e com mais “gaffes” que a acima citada (para que fique assegurado), tenta assim adotar uma estrutura na primeira pessoa, onde predomina uma visão feminina sobre algo socialmente mais invisível que os adolescentes idiotas que só pensam em ter sexo – algo que possa potencialmente passar ao lado de uns quantos espectadores do sexo masculino.

Ainda assim, pese este chamado “olhar feminino”, haverá aqui um ponto-chave perto do final, onde a submissão feminina face à figura masculina poderia até fazer crer que o argumento tinha sido escrito por um homem e não por uma mulher…

Em suma, um filme de adolescentes, que, não reinventando de todo a roda e pese uma ou outra cedência narrativa questionável, tem o cérebro e o coração no devido lugar.

O melhor: um filme de adolescentes com cérebro e coração.
O pior: algumas cedências narrativas.


André Gonçalves