Sexta-feira, 19 Abril

«iBoy» por Jorge Pereira

As tecnologia e o medo dela, especialmente associado ao armamento (nuclear, por exemplo), sempre serviu para criar heróis e vilões. iBoy, primeiro filme britânico totalmente financiado pela Netflix, não foge à regra, embora a plataforma de streaming talvez seguisse um melhor caminho se tivesse transformado o conceito numa série.

Tom (Bill Milner) é um adolescente tímido e solitário com um fraquinho pela sua amiga Lucy (Maisie Williams). Quando ela é sexualmente agredida por um grupo de rufias, e ele é apanhado no meio do caos, pedaços do seu smartphone ficam alojados no cérebro, acordando depois no hospital e com superpoderes – como telepaticamente entrar em qualquer rede digital. Agora como “iBoy”, ele sai para as ruas de forma incógnita para tentar caçar os responsáveis pelo ataque a Lucy, acabando numa luta desenfreada com um bando de traficantes que assola a área.

Se tudo isto podia gerar uma combinação curiosa entre os filmes de heróis improváveis e o realismo dos gangues juvenis britânicos, a verdade é que o filme prefere uma abordagem que o faz ficar bem longe de outras misturas explosivas como os que vimos em Ets in da Bairro ou na série Misfits – produtos quais possuiam uma forte dose de humor, indespensável para lidar com premissas absurdas.

Pelo contrário, Iboy – baseado no livro de mesmo nome de Kevin Brooks – leva-se demasiado a sério e erradamente está demasiado seguro que o espectador hoje em dia aceita qualquer tipo de superpoderes sem procurar qualquer lógica ou sentido. Assumido-se a certo ponto como um filme de pura vingança, Iboy fraqueja então na falta de uma verdadeira visceralidade ou crueza, caindo no mero filme de «mauzões» para adolescente ver.

Para piorar, a partir de certo ponto, os clichés amontoam-se, e a fita apresenta uma enorme fraqueza nos diálogos e nas ideias para onde quer seguir. Os própios vilões revelam-se demasiado fracos, ficando apenas na retina do espectador um visual frenético com tiques de videojogo, uma montagem carregada a doses de música tecno, e atores que cumprem nos minimos os seus papéis sem nunca deslumbrar.

O melhor: Tem alguma coragem no início
O pior: A total ausência de humor e uma seriedade e crueza limitada dado o target do filme (adolescentes)


Jorge Pereira

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