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«Rings» por Jorge Pereira

Já sabiam que existe um vídeo que se o assistirem, passados 7 dias morrem. Pois bem, ficam agora a saber que há um filme que se o assistirem o mais provável é daqui a 7 dias não se lembrarem de nada, ou então de sucumbirem durante o seu visionamento na mais profunda letargia.

Nunca é um bom sinal quando uma fita vê a sua data de estreia adiada três vezes (originalmente ia estrear em novembro de 2015). Rings, terceiro filme da saga The Ring nos EUA, confirma ao longo dos seus penosos 102 minutos a razão de tanta hesitação. Aliás, todo este produto pré-fabricado e industrializado é uma enorme deceção e hesitação, pois nunca sabe bem o que quer ser. Aquilo que temos a certeza é que esta nova entrada da franquia contribuiu mais para a enterrar do que para a revitalizar. Requiescat in pace….

Sim, teoricamente o objetivo era revitalizar uma saga de horror que os americanos pegaram em 2002. O primeiro The Ring fazia bem o seu “jogo da imitação” em relação ao original japonês, tendo na liderança uma atriz com capacidades dramáticas (Naomi Watts) e um estilo visual espampanante que nos cativava. A sequela, já com o realizador do Ringu original na liderança (Hideo Nakata), mostrava já sinais de cansaço como quase todos os produtos J-Horror da época. Este Rings não tem absolutamente nada de positivo por onde se pegar.

A história, apesar de tentar ir por novos caminhos, é tudo menos refrescante, as personagens são de cartão e pouco interessantes, os atores não têm capacidade para lhes dar a espessura necessária e a montagem e realização é do mais banal e entediante possível, sem qualquer química com um guião extremamente aborrecido, previsível e remendado. Um bom exemplo desses remendos a cuspo é a personagem interpretada por Vincent D’Onofrio, pese embora entre em cena como elemento misterioso.

Ora numa era digital das partilhas online, redes sociais, e toda uma panóplia de oportunidades para dar um novo fulgor ao conceito, Rings tem a capacidade de fracassar em todos os níveis, nem se sentindo mesmo como um filme da saga. Na verdade, e tirando Samara andar por lá, Rings parece um produto genérico do final dos anos 90, lançado diretamente para vídeo, com todos os tiques e sustos baratos do cinema de terror para adolescentes acríticos que consomem filmes atrás de filmes.

Assim, se  Rasen/Spiral – lançado paralelamente ao Ringu original – foi tão mal recebido que passou a constar numa espécie de universo paralelo da franquia japonesa [na realidade era uma sequela não direta], Rings vai acabar por ter o mesmo destino na saga americana: descartável e esquecível no contexto.

O Melhor: Tentar ir por novos caminhos, mesmo fracassando
O Pior: Tudo, até o facto de desaproveitar o potencial dos perigos da tecnologia nos nossos dias.


Jorge Pereira