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O Exame: porque a corrupção é natural, segundo Cristian Mungiu

 
O Exame (Bacalaureat) é indiscutivelmente um filme de Cristian Mungiu [1], nota-se a “léguas“, desde o seu vincando realismo inserido em longos takes até ao gradual desafio em que as suas personagens são submetidas nas mais drásticas situações, passando por uma atmosfera rodeada por fantasmas oriundos dos tempos de Ceauseascu. 
 
O realizador romeno, um dos braços fortes da sua Vaga Cinematográfica que tido cada vez mais presença nos festivais mundiais, é um homem sob um constante olhar para a condição humana, o encarando como um entusiasmante retrato da vida mundana. Os seus “heróis” não são mais que meros mortais, prevalecidos por seus atos involuntários e pela natureza que os rodeia e que os obriga a camuflar. Neste mesmo Cinema, não existe maniqueísmo, somente personagens sem passado definido e muito mais, sem futuro à vista do espectador. 
 
Em O Exame, o retrato segue ao encontro dos limites da paternidade, da educação que damos aos nossos “rebentos“, o mundo idealizado que queremos os inserir. Porém, a realidade é mais violenta e “suja” que essa mesma idealização, e a inadaptação é o que espera a esta geração iludida. A jornada de um pai para preservar o futuro pretendido para a sua filha, o leva para os cantos mais obscuros e psicanalistas da consciência moral. Aliás, não existe o certo nem o errado, somente escolhas, aquelas decisões que agimos sem pensar em um momento que seja. 
 
Será a corrupção uma característica mais que natural do ser humano do que a imagem que o moralismo social nos quer fazer acreditar? Cristian Mungiu consegue um forte drama ambíguo, envolvido numa melancolia cautelosa, até porque esta Roménia ainda é conduzida por espetros, as vivências de tempos negros, aquela “prometida” Idade do Ouro. Como veiculo emocional (ou não) deste O Exame, está Adrian Titieni, uma das caras mais reconhecidas do cinema romeno recente, o qual tem vindo a provar estofo para exercer o papel de anti-herói em sociedades replicadas à nossa. 
 
Não sendo a melhor obra da Cristian Mungiu, este é um filme certamente para ver e refletir, sem a imperatividade do sentimento manipulado.