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«Christine» por Hugo Gomes

Antonio Campos repesca um dos episódios mais trágicos da televisão norte-americana – o suicídio em direto da pivô e jornalista Christine Chubbuck – para apurar as causas que levaram esta mulher a cometer ato tão grotesco.

A composição desta personagem misteriosa deve-se muito a Rebecca Hall que subjuga-se a este tormento psicológico num filme que aposta desde cedo na iminência da catástrofe. Obviamente, que o espectador sabe como terminará esta aventura pessoal, assim como um certo filme de James Cameron que “flutuou” nos box-office em 1997, mas o aqui em causa não é um filme válido pelo seu desfecho, e sim, um episódio recorrido em decadência humana, uma tragédia grega que joga o meta-palco da sua criação.  

Campos sempre teve um “fraquinho” por personagens torturadas, absorvidas por um ambiente em total decomposição, assim como o destino destas. Rebeca Hall cria em Christine um derradeiro duelo intrínseco entre uma réstia de esperança, uma salvação que o espectador aguarda desesperadamente, porém, sabendo à partida que tudo é em vão. Sim, este é o tipo de obra que qualquer guia televisivo expõe o aviso do “anti-feel good movie“, o cinema que reflete o quão frágeis nós somos, o quão vitimas somos dos nosso próprios objetivos profissionais, ao mesmo tempo, Antonio Campos dá-nos certas luzes sobre a condição e evolução da comunicação social, em certa parte, a forma como o jornalismo adaptou-se às audiências e não o oposto.

Existe aqui, evidente inspiração aos dotes dramáticos de Network, de Sidney Lumet, à hipocrisia implementada pela “caixinha mágica” e a sua interação com o exterior. Contudo, como biopic, se é que Christine anseia afirmar-se como tal, o filme tende em afastar-se desses lugares comuns de agenda award season, apostando da ênfase dramática e na criatividade desse sentido nas suas personagens. A depressão é um efeito secundário e o complexo desempenho de Rebecca Hall a principal medida.   

Yes, but …

Hugo Gomes