Quinta-feira, 28 Março

«Toro» por Duarte Mata

Olé! Kike Maíllo pegou num argumento típico de ação, onde o leitmotiv é a vingança, neste caso, num trio de irmãos que vê um dos seus membros ser assassinado a sangue frio, e criou um exercício de cor e luz que o aproximam mais de um thriller dramático de mafiosos, onde a família é o que mais importa.

Mesmo que o genérico à la 007 pareça despropositado ou muitas das cenas de conversa encontrem-se com uma montagem desadequada à ação, é notável como o cineasta prende-se à fotografia e à encenação para avançar com ela. Ou, meramente, engrandecê-la. É reparar nos filtros fotográficos recorridos (verde e amarelo, aliás, as cores predominantes ao longo do filme) a contracenarem com o trabalho de direção artística que opta pelo vermelho e azul; contemplar os planos gerais que deixam o Sol entrar e ofuscá-los quase na sua totalidade (justamente, nas cenas em que não se passa absolutamente nada) ou, apenas, os planos picados que, muitas vezes, seguem uma personagem para a abandonarem e perseguirem outra, para percebermos que aquilo que o cineasta crê que o argumento não dá muita atenção, é, justamente, o que mais interessa. Um pouco à semelhança daquilo que Michael Mann fez (de uma forma, muito, muito extrema) em Miami Vice.

Esqueçam a noção que têm do cinema de ação ou espanhol, pois nenhum deles se enquadra aqui. Toro é impecavelmente esteticizado à sua maneira, onde a violência repugna, mas dá espetáculo, tal qual uma tourada autêntica onde, independentemente do quão valente e grandioso seja o esforço da fera, o seu destino, mal entra na arena, já está traçado… E é por isso que, por mais americano que pareça querer ser (a perseguição de carros não ajuda), o seu coração é mesmo sevilhano.

O melhor: A esteticização da obra.

O pior: Momentos onde a montagem tem um ritmo desadequado e a cena de perseguição de automóvel, escusada.

Duarte Mata

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