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95 and 6 to Go: o número da senha para o “Ceifeiro”

A documentação e coleta de memórias integram as principais raízes do cinema documental. O documentário longe da pedagogia interativa que muitos parecem associar, e antes um registo de qualquer natureza. Tal como os indígenas amazónicos que acreditavam que uma fotografia roubava-lhe as almas, o cinema tem sido diversas vezes encarado como um “caçador de espíritos”, perseguindo, “agarrando” e preservando, não em âmbar, mas em fita, (neste momento o digital serve como alternativa).

E dentro desse mesmo cinema-arquivo, encontramos por vezes o álbum de família, um grupo pelo do qual pertence este “95 and 6 to Go”, um filme dirigido pela realizadora Kimi Takesue, que remete-nos à história da sua família tendo principal foco o seu adorado avô, que conta com quase um século de vida. Nisto é exposto a sua experiência e aventuras, assim somando desventuras, o qual foi submetido ao longo da sua longa existência. Mais do que uma “musa”, o patriarca Tom Takesue torna-se, maioritariamente, no assistente de realização desta mesma obra, tal como refere em jeito jocoso nesta jornada de registo.

A sua vontade de viver, um dos tópicos pelo qual a câmara de Kimi “vasculha”, converte-se no maior combustível do filme. Um velho que recusa morrer, e sobretudo guardar as tristezas de uma vida em fragmentação quanto ao seu próprio ser. Tom refere várias vezes que a morte da esposa, assim como da filha, que faleceu antes do tempo, “espinhos” cravados de uma existência que “dá e tira”, mas que é no seu gradual esquecimento que o nosso protagonista encontra a resistência ao ceifeiro.

Amante de cinema, música e dança, de um jeito curioso de ver ao seu redor, Tom consiste na grande estrela destas filmagens tecidas entre si. Possivelmente sem ele, “95 and 6 to Go” (nota-se que até o título foi escolhido pelo próprio Tom com alusão aos seis meses de vida que o seu médico previu perante um cancro diagnosticado), seria uma tentativa falhada de coletar memórias mais queridas para a nossa realizador do que para o público. Todavia, Kim encontrou uma “pepita de ouro” nesse processo, um vórtice de interesse resistente à monotonia do seu formato. E é essa joia dá-se pelo nome de Tom, contagiante graças à sua imensa vitalidade.