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«Safari» por Paulo Portugal

O austríaco Ulrich Seidl leva-nos a um parque de diversões com caça ao menu. “Na verdade, com a sua morte estamos a ajudar estes animais”, diz a certa altura uma das personagens que documentam este novo documento do austríaco Ulrich Seild, desta vez a acompanhar caçadores de recreio numa reserva africana e que compõe o por vezes perturbante “Safari. Trata-se de uma caçadora jovem, algo inexperiente, que parece rebuscar uma justificação para matar animais selvagens, ao lado do namorado bem mais ousado que gostaria de matar uma zebra porque “tem a pele muito bonita”.

Do austríaco Ulrich Seidl habituamo-nos a esperar relatos cínicos e silenciosos de algumas tendências dos seus conterrâneos. Seja as aberrações privadas “Na Cave [1]” (2014) ou nos desvios da trilogia “Paraíso”. Aqui temos uma nova variante do seu olhar, agora centrado num grupo de caçadores que procura a descarga de adrenalina do disparo certeiro num futuro adorno de parede. Uma atividade devidamente facilitada por peritos que os conduzem ao local, lhe apontam a presa, colocam o tripé para a espingarda de longo alcance e até os ajudam a compor o animal morto para as fotos da praxe. Como que uma encenação da celebração da morte. Isto depois de selecionado o bicho num longo cardápio de preços. Mas também há, os mais idosos, quem prefira aguardar a passagem do bicho diante da objetiva num pequeno bunker de madeira a beberricar cerveja.

Em certo sentido, “Safari”é uma variante de “Paraíso: Amor [2]” (2012), em que as “sugar mammas”, as balzaquianas austríacas, iam à ‘caça’ de negros jovens para umas férias de sexo e lazer. O registo é implacável e imperturbável. Com o mesmo olhar lívido dos troféus que inundam as paredes daquela villa na Namíbia. O problema é que este realismo cru de Seidl já não nos surpreende da mesma forma. Como que começa a denotar até alguma falta de frescura. O cinismo continua ácido, mas a denotar um tom algo repetitivo. Continua bom. Mas menos.

O melhor: Uma nova viagem ao universo negro dos caçadores de lazer

O pior: A ideia de que Seidl começa a repetir-se

Paulo Portugal