A sequela que ninguém havia pedido, mas que secretamente desejávamos, visto que o papel desta façanha coube a um maldito filme de 2000 (o que raio aquilo era?). Adam Wingard, um dos descendentes diretos do estilo multifacetado de John Carpenter, surpreendeu tudo e todos quando um dos seus programados projetos, anteriormente apelidado de The Woods, converteu-se automaticamente na continuação enviusada de um êxito de 1998, Blair Witch Project.

O filme em questão não inventou o estilo found footage como muitos afirmam, porém, o reiventou para as novas geração, uma proposta de exploração que foi adiada até 2007 , no decorrer do Baby Boom do subgénero (as culpas ainda estão por apurar, ou é [REC] ou Diary of the Dead, de George A. Romero). Wingard tem a noção de que 2007 para cá, as pessoas andam minimamente “fartinhas” de found footage, por isso é que este Blair Witch providencia como um reflexo aos avanços tecnológicos que marcaram a pausa de 17 anos. Temos drones (GO PRO), câmaras integradas e digitais, GPS à mistura e um ego cada vez mais evidente das nossas personagens (culpamos aqui as redes sociais e a geração “Youtube“). Mas nada disso impede que uma noite nas florestas amaldiçoadas de Burkittsville torne-se num autêntico pesadelo.

Aquilo que o anterior Blair Witch conseguiu vingar até aos dias de hoje, é sobretudo esquecido neste pretensioso pedaço de homage. Falo obviamente da subtileza. Enquanto que no filme de Daniel Myrick e Eduardo Sánchez, o terror era uma sugestão obscura do outro lado da porta, na versão de Adam Wingard existe a tendência de “ver o monstro” por detrás dessa mesma porta. Não é bem culpa de Wingard, as audiências também evoluíram, e neste momento possuem apetites vorazes pelo grafismo, sobretudo pelo explicito, desejam o conhecido, a imaginação empapada e regida pela ordem de outros. Infelizmente não existe passo para o nosso intelecto, para a interpretação intima desse mesmo escuro, dos medos primitivos que governavam a Idade das Trevas, reina neste momento, a pura e simplesmente curiosidade, o mediático e o automático.

Nesse sentido Blair Witch falha, não por ser bem concedido nos seus jump scares e condizê-los com o som (este é uma versão bem barulhenta), mas por limitar-se a preencher esse tal desconhecido com pesadelos que não são os nossos. Ou seja, conhecemos a origem dos barulhos paranormais, conhecemos as lendas e as suas veracidades e exploramos as pontas soltas do filmes de 1998 com uma vertente quase pornográfica.

A sobrar nesta experiência mais devedora aos tiques triunfantes de [REC] do que à sua prequela, está os desempenhos destas jovens vitimas, a contrariar a tendência de personagens desinteressantes em enredos de artificio circense.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
blair-witch-o-bosque-de-blair-witch-por-hugo-gomesA sequela direta do sucesso de Blair Witch Project