Em Hollywood o que não falta são realizadores sem personalidade, e dentro dessa vaga encontramos o muito pomposo Edward Zwick, que assumindo agora como o tarefeiro num franchise sob uma segunda oportunidade poderá ter feito o melhor filme da sua carreira.

Sim, estamos a falar desse mesmo, o autor dos êxitos de “The Last Samurai”, “Blood Diamond” e “Glory” (mais conhecido como a obra que garantiu o primeiro Óscar de interpretação a Denzel Washington), está neste momento resumido a um nome de lista, o qual embarca na segunda aventura de Jack Reacher, a criação de Lee Child, convertido numa variação híbrida entre Ethan Hunt / Dirty Harry por parte de Tom Cruise. É acima de tudo uma personagem militante e autoritária que se move como um freelancer ao serviço de uma nação, as suas “missões” tem sim, personalidade, algo que primeiramente confronta com o estilo confundível de Zwick.

Mas verdade seja dita, Cruise é daqueles atores bem ligados ao star system, e porque não considerá-lo num autor emancipado, ao invés de referirmos o “sujeito” sentado na cadeira de realização? Estamos perante num automático filme de ação, mas nada de irritante aliás, porque a sua automatização é oleada e lustrada com os propósitos da sua estrela, e em comparação com o primeiro tomo (estreado entre nós com algum agrado em 2012), este “Never Go Back” é deveras “plus” emocional, até porque humanizar heróis e vilões são o prato do dia, e como ninguém mais acredita em “homens de ferro”, porque não encher esta satírica personagem com traços paternais (de velha guarda, claro).

Outro ponto que marca este novo Jack Reacher encontra-se refletido na produção, existe nos créditos um nome que devemos tomar nota, Christopher McQuarrie. Realizador do filme de 2012, mas que conheceu o êxito verdadeiramente com o quinto “Missão: Impossível”, cujo paralelismo com este “Never Go Back” é simplesmente na condução das personagens femininas. Se na aventura de Ethan Hunt era Rebecca Ferguson a acompanhar as “peripécias” do herói com tamanha dignidade e solidez, neste segundo Jack Reacher é Cobie Smulders (sob a experiência da série da Marvel, “S.H.I.E.L.D”) a livrar constantemente do rótulo de “dama em apuros“, ao mesmo tempo dignificando o papel feminino nas Forças Armadas.

Mas pronto, de resto este novo capítulo de uma saga (veremos o que ditará o box-office, confirmando assim ou não, a força de Tom Cruise em bilheteira), é simplesmente um veículo de ação que não envergonha ninguém, nem ofende o intelecto do espectador (nesse aspecto o franchise “Fast and Furious” sempre fora um atentado), que sob uma previsibilidade um quanta atormentada garante-nos um modelo, hoje em dia descartado, do cinema lúdico e ferozmente capaz dos tempos de Charles Bronson. Mas fica na mesma o aviso à navegação, nada aqui de verdadeiramente vintage.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
jack-reacher-never-go-back-jack-reacher-nunca-voltes-atras-por-hugo-gomesTom Cruise é Jack Reacher, Jack Reacher é Tom Cruise, ponto