Terça-feira, 23 Abril

«Jane Got a Gun» (As Armas de Jane) por André Gonçalves

O género “western” é um pouco como o “rock ‘n roll” dos filmes – ambos com um claro desabrochar em meados do século passado, atualmente uns acreditam na sua morte, outros querem-nos mortos. A verdade é que Hollywood tem tentado, muito via remakes (“True Grit“, e mais recentemente, “Os Sete Magníficos“) reavivar uma das suas jóias da coroa, o género mais norte-americano deles todos.  

As Armas de Jane” infelizmente não traz qualquer base fiável de refutação à tese de que “o western está morto“. Esta é a história de Jane, uma mulher que no início do filme recebe o marido, Bill “Ham“, ferido depois de uma luta com o bando de criminosos liderados por John Bishop, e sabe instantaneamente que está em perigo de vida. Porquê? O espectador será informado, “flashback” a “flashback“. Mas Jane não é uma donzela qualquer… sabe defender-se e contra-atacar. E planeia então a sua vingança contra o homem que a escravizou em tempos. 

Este é um daqueles filmes nos quais a história de bastidores é mais interessante que a história que efetivamente está a ser filmada. Senão vejamos: este seria supostamente um filme realizado por Lynne Ramsey (“Precisamos de Falar Sobre o Kevin“, “A Viagem de Morvern Callar“), até a realizadora sair do projeto um dia antes do início das filmagens, em março de 2013 (!), levando consigo Jude Law e o diretor de fotografia Darius Khondji. Depois de Jude Law, Bradley Cooper foi escolhido para o papel de vilão mas foi forçado a desistir devido a conflitos de calendário. Três anos depois, e com o filme já pronto para ver a luz do dia, estava programada uma ante-estreia mundial em Paris a 16 de novembro de 2015, só que os ataques terroristas de dia 13 fizeram cancelar todos os planos de lançamento, tendo o filme sido adiado mais um par de meses. 

Há que dizer que todo este desgaste de produção, e aura de desastre iminente, nem é assim tão acusado na tela. A narrativa, se pouco original na sua suposta originalidade, cumpre minimamente a sua trajetória de A a B, e tenta até espetar aqui e ali uns pós de irreverência. O naipe de atores escapa igualmente ileso, e inclui em particular uma transformação curiosa de Ewan McGregor (que viria a substituir ultimamente Jude Law). E o realizador Gavin O’ Connor (“Tumbleweeds“, “Warrior“), que entrou portanto para a cadeira no primeiro dia de filmagens, é um tarefeiro acima de muitos outros, capaz de mastigar e regurgitar muito bem o melhor do género…   

Se não está propriamente ao nível do revivalismo pujante de um “Rápida e Mortal” de Sam Raimi (ironicamente com a mesma nota no agregador de críticas metacritic que este), este não embaraça tanto como muitos terão prognosticado: vê-se, esquece-se, e passa-se à frente. É portanto mais um tiro ao lado que um tiro no pé. 

O melhor: o profissionalismo face às múltiplas adversidades, e os toques de irreverência aqui e ali.

O pior: ser ultimamente esquecível.

André Gonçalves

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