Quinta-feira, 25 Abril

«Amanda Knox» por André Gonçalves

Poderá o cinema cumprir melhor a função jornalística que os jornais, as rádios, as estações de televisão ou até mesmo a internet? Olhando para “Amanda Knox“, a resposta é clara, ao contrário da questão central do filme: se Amanda Knox matou efetivamente a sua colega de casa Meredith Kercher em Perugia (Itália), num dos crimes mais falados do novo século. 

Há aqueles que acreditam na minha inocência. Há aqueles que acreditam na minha culpa. Não há meio-termo.” Assim começa a visão de Amanda, em jeito de depoimento. Mas vamo-nos apercebendo que há a possibilidade para o tal meio-termo, quando o documentário pouco tempo depois muda de perspetiva, busca o contraditório – nomeadamente no depoimento de Giuliani Mignini, o procurador geral que esteve na base da sua acusação. O espectador vê-se então preso na investigação, onde é praticamente colocado a questionar o que todos dizem, qual inspetor.

Ao contrário da imprensa sensacionalista que em 2007 procurou os contornos mais escondidos da vida sexual dos envolvidos, ao contrário das redes sociais que actualmente nos puxam para dois lados distintos, ao contrário dos “Prós e Contras” que são mais “Prós e Prós“, temos aqui o mundo desorganizado e mal resolvido nas mãos. Este é definitivamente o grande triunfo dos realizadores Brian McGinn e Rod Blackhurst. Esta é a lição para o jornalismo: como crónicar um caso bicudo, que teve direito a duas condenações (conjuntas para o casal Knox e Raffaele Solecito, que também surge aqui, se num plano mais secundário) e uma decisão final do Supremo Tribunal. 

O jornalismo, tenta-se perceber, tal como a justiça, procura resoluções imediatas e inequívocas para os acontecimentos que relata. O cinema pode (e deve) fazer diferente. Se “Amanda Knox” não for o mais inovador dos documentários a um nível puramente cinematográfico, pegando nos depoimentos e nas imagens de arquivo com o mínimo de criatividade para nos colar à cadeira, mostra-nos onde o jornalismo falhou. E só por isso merece que todos os olhares se centrem nele.

O melhor: a recusa de oferecer um retrato unilateral.

O pior: o “modus operandi” não ser propriamente vanguardista para um documentário

André Gonçalves

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