Quarta-feira, 24 Abril

«Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children» (A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares) por Hugo Gomes

Verdade seja dita, saturados andamos com enésimas adaptações de livros infanto-juvenis de teor fantástico [vórtice 1]. Verdade seja dita, Tim Burton consegue trazer com tema tão explorado um certo grau de rigor e estilismo [vórtice 2]. Verdade seja dita, nem Burton é capacitado o suficiente para retirar a “milésima experiência” no ramo da mediocridade de estúdio formatado [vórtice 3].

Inspirado na escrita de Ransom Riggs, A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares possui os ingredientes integrais para agradar uma faixa etária, “comovo-nos” com humanos “especiais” e com heróis em modo “the one“, envolvidos num pano de fundo da Segunda Guerra Mundial. Em Tim Burton tal matéria daria asas às suas catarses da “normalidade“, assim como havia feito no ainda imbatível Eduardo Mãos de Tesoura. Mas nada disso, sendo possível identificar os “dedos” burtonescos do realizador, assim como uma certa ousadia em transgredir por entre a “normalidade” da produção, A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares é um daqueles casos de que a originalidade não “mora aqui“.

A culpa é de Ransom Riggs, poderão proclamar muitos, e a verdade sim, mas nada invalida que a produção cinematográfica sofra com todos os sindromas que abatem este subgénero de filmes, muito mais nas fases pós-Harry Potter, ou pós-Twilight, onde tudo que soava franchise juvenil-literário era motivo de adaptação. A começar por uma prolongada introdução deste universo fantástico até chegar a personagens rebuscadas sob uma infelicidade enorme de serem reduzidas a adereços do bizarro e até mesmo Eva Green, apostada como a grande protagonista, numa caricatura de si própria. Já que falamos de caricaturas, porque não mencionar Samuel L. Jackson.

Todo este arrastar pouco emocional e de território previsível termina sob “dinâmicos” acordes, um climax apressado, demasiado tosco e pueril que não deixa ninguém indiferente. Sim, o estúdio tem medo da palavra “flop“, e há motivos para alarmes, vivemos em tempos que Spielberg já não é nome certo para o sucesso, por isso, Tim Burton também pode falhar nessa vertente comercial, sendo que tais pensamentos nos refletem sobre o sucedido: “existe receio em apostar em mais um franchise“.

Continuando com o “vórtice” da “verdade, seja dita“, muitos serão tentados a responder que Tim Burton é acima de tudo um autor, e a menor obra deste pode ser considerado melhor que os dos outros, pois, é nesse estatuo que o nosso realizador precisa de uns “calduços“. Vendeu a sua personalidade à indústria e voilá … o pior filme da sua carreira. Sim, mais esquecível que a “macacada” de 2001. Vale pelo previsível; cenários, efeitos visuais e sonoros e o estilo ainda “burtonesco” que corre nas veias das personagens.    

Hugo Gomes

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