Quinta-feira, 28 Março

«La Tortue Rouge» (A Tartaruga Vermelha) por Paulo Portugal

Ora aqui está um filme a sussurrar-nos para ser visto. The Red Turtle é daquelas pequenas preciosidades a que os estúdios Ghibli nos habituaram, se bem que aqui a companhia com o logo do famoso Totoro tenha abraçado pela primeira vez acedido a uma co-produção, a cargo do londrino holandês Michael Dudok de Wit e que se arrisca a ficar ao lado das grandes obras primas que nos legara os estúdios de Hayao Miyazaki. The Red Turtle é assim uma maravilha que atravessa todas as línguas, todas as culturas, de acordo com o guião de Wit em parceria com Pascale Ferran. E não só por não exibir (os desnecessários) diálogos, mas por apostar nessa comunhão plena entre a humanidade, a natureza, a música e os sentidos.

Tudo começa com um naufrágio e com o náufrago a tentar sobreviver numa ilha deserta. Apenas com a testemunha de pequenos caranguejos inquisitivos, logo decide que o seu impulso está fora dali, o que o leva a construir diversas versões, cada vez mais fortes, de uma jangada, mas que acaba por ser sempre destruída por um misterioso ser – uma enorme tartaruga vermelha. É a partir daqui que a história toma espessura e continua a encantar-nos com este misto entre animação manual, muito próxima de Hergé, com toques subtis de animação gráfica.

O ponto de partida e chegada é sempre a ilha, sobretudo depois de uma transformação que prolongará a vida deste naufrago e o levará a descobrir mais sobre si próprio. Uma viagem que se transforma num imediato clássico. Uma pequena gema.

Paulo Portugal

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