Automaticamente encontramos em Capitão Fantástico, a segunda longa-metragem de Matt Ross, um ensaio comparativo com a pouca ortodoxa obra de Yorgos Lanthimos, Canino, o qual se depara com uma distopia induzida, o como distorcer e controlar o nosso quotidiano, o mundo que olhamos e idealizamos regendo a essas ideias implementadas por órgãos superiores. Enquanto que o grego levava essa vertente para uma alegoria de caverna de Platão, em Capitão Fantástico a situação declara-se inicialmente como um “grito de guerra” aos costumes ocidentalizados.
Viggo Mortensen é esse “fantástico líder“, um homem eremita que se refugia nos densos bosques americanos, dependendo do seu instinto e intelecto para sobreviver (pronto e uma “ajudinha” a nível de segurança social, pormenores, enfim). Em acréscimo, ele é um pai de 6 crias, o qual educa segundo as suas revolucionárias ideologias, promessas feitas para a sua falecida mulher, juras de uma impotente tendência de “mudar o Mundo” da sua própria formatação. Pois bem, até certo caminho, esta “estranheza” nada nova de Capitão Fantástico conquista-nos com a sua crítica social, ingénua é certo, mas constantemente desafiadora da “perfeita comunidade” que se dá pelo nome de EUA.
Neste percurso, previsivelmente anexado a mais uma road trip (como o cinema norte-americano independente adora viagens pela estrada fora), os alvos são muitos, desde a educação escolar (ou a insuficiência desta) até ao entranhar religioso nos nossos dias (a magnífica ideia de Ben substituir o Natal pelo dia de Noam Chomsky), passando pela falta de senso crítico individualista. Até determinado ponto, Capitão Fantástico sabe “puxar” os fios de forma correta, porém, estamos a falar de um obra de vertente indie, daquela classe que adequadamente figuraria num Festival Sundance (na verdade o filme chegou mesmo a estrear no dito festival norte-americano), ou seja, tudo acaba por recorrer ao território moralista, mais do que o suposto intimismo.
Quando o macguffin do filme revela-se numa família atípica a lutar para dar à falecida mãe e mulher um funeral digno às suas “crenças“, entra em cena uns supostos antagonistas, os sogros de Ben (interpretados por Frank Langella e Ann Dowd), fervorosos religiosos e de frutíferas posses. A partir deste momento, Matt Ross tenta encontrar um “meio termo” entre o modo de vida pouco ortodoxa levado a cabo pelo protagonista e dos costumes “normais” de uma cultura ocidentalizada deste par de personagens. Falha a crítica, a perspetiva, a ousadia de transgredir o pensamento comum e por fim, a queda para o registo coming-to-maturity.
Capitão Fantástico, alusão ao energético álbum de Elton John (Captain Fantastic and the Brown Dirt Cowboy), sobrevive graças a uma ideia, a uma sugestão que não é levada avante em derivação do politicamente correto que afronta os nossos dias, sem percebemos que essa atitude de não ferir suscetibilidades converte-se na sua maior ofensa. No final é isto, um filme cobarde apenas erguido com a força do seu protagonista. Pois bem, Viggo Mortensen é verdadeiramente o “fantástico” do título. Graças a Noam Chomsky!
Pontuação Geral
Hugo Gomes
captain-fantastic-capitao-fantastico-por-hugo-gomesA ideia e Viggo Mortensen vingam em mais uma demanda à lá Sundance.