Sexta-feira, 29 Março

«Sadako Vs Kayako» por Hugo Gomes

Crossovers no género de terror é um truque mais antigo do que aquilo que se julga. Nos anos 40 e por aí fora era comum encontrar este tipo de registo de forma a “despacharfranchises, ícones ou simplesmente combinar dois “clubismos” num só. O resultado, Lobisomens contra Frankensteins, Frankensteins contra Dráculas, Dráculas contra Lobisomens, ou tudo ao “molho” como é o caso de House of Frankenstein (Erle C. Kenton, 1944).

Do outro lado do Oceano, os japoneses não ficaram de fora perante esta artimanha, aliás foi essa mesma que serviu de plano de sobrevivência para uma saga sua, Gojira (Godzilla), e os casos mais gritantes como Gojira Vs King Kong (subliminarmente a desforra do resultado da Segunda Guerra Mundial) ou Gojira Vs Gamera. É lógico que passados estes anos todos, “coisas” como Alien Vs Predator e Freddy Vs Jason (este último acaba por ser o mais modesto dos exemplos hollywoodianos) integram a memória do espectador no preciso momento que se fala em crossovers, embates entre duas sagas.

Sadako Vs Kayako (de um lado Ringu, de Hideo Nakata, do outro Ju-On, de Takashi Shimizu), são duas “vitimas” do desgaste, sombras do que outrora foram – pioneiros no prolifero subgénero j-horror – encontram a única solução de revitalização num confronto cinematográfico. A quem acredite que todo esta manobra de comércio marque o fim de dois franchises, porém, algo é certo, Sadako Vs Kayako é um “caçador formidável”. Digo isto porque tem a proeza de “matar dois coelhos duma cajadada só”.

Pois bem, a ideia está à vista de todos, “vamos juntar dois pesos-pesados do cinema de terror nipónico para facturar o que sobra destas espécies em vias de extinção”. Quanto a argumentos? Segundo a “mentalidade” dos produtores, qualquer coisa serve como desculpa (todo este episódio faz lembrar a “matança” a Freddy Krueger ocorrido em 1991). Os atores? Estes serão apenas reduzidos a caricaturas das caricaturas num filme que não consegue encontrar o seu verdadeiro tom. Quanto às poucas sequências de terror que o filme tenta emanar, palavra de honra, puros motivos de chacota para as audiências.

Estes pesadelos converteram-se em inofensivas imagens, sem força alicerçada, nem sequer rigor para funcionar como sátira, é somente uma produção sem esforço nem vontade, “pastilha elástica” da pior qualidade. Aliás tudo resume-se a uma “palhaçada” com objectivo de extrair o que resta nestas duas sagas em vias de eutanásia. Visto isto, mais valem morrer sozinhas. Abaixo deixo a minha homenagem a estas duas sagas:

R.I.P. Ringu: 1998 – 2016

R.I.P. Ju-On: 2000 – 2016

Hugo Gomes

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