Um dos episódios mais impressionantes da História da Aviação aconteceu em 2009, quando o piloto norte-americano – Chesley “Sully” Sullenberger – concretizou com êxito uma arriscada aterragem no Rio Hudson. Estamos a falar do  US Airways 1549, um avião comercial que trazia a bordo 155 almas, porém, devido ao heróico feito de “Sully” que atuou no momento certo, nenhuma delas se perdeu. Uma “boa notícia em Nova Iorque, principalmente com aviões“, como é referido a certo momento nestas adaptação de Clint Eastwood, tem recebido um extremo frenesim mediático. “Sully” foi automaticamente elevado a estatuto de herói, tendo até sido nomeado pela revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes.

Mas passando para o filme propriamente dito, Clint Eastwood remexe novamente na História norte-americana para analisar um dos seus heróis recentes. Contudo, este Sully está mais próximo de Flags of our Fathers (A Bandeira dos Nossos Pais) do que o equívoco de American Sniper (continuo a acreditar que o filme não foi fruto de Eastwood), o qual procura uma definição concreta de heroísmo, posicionando a câmara para os homens comuns que os “imortalizam“. Enquanto que no filme de 2006, o retrato dos soldados que içaram a bandeira dos EUA na ilha de Iwo Jima, os ditos “heróis” questionavam-se perante uma sociedade sedenta pelo estatuto, em “Sully” é a própria sociedade que questiona a natureza do nosso herói, sendo este o conflito que prossegue toda a narrativa, desaguando no limiar existencialista do protagonista.
Tal como sucedera com o fracassado Flight, de Robert Zemeckis, é a busca dos factos e responsabilidade acima de qualquer fator humano, mas Sully apresenta-nos um “punhado” dessa última dose com Tom Hanks a funcionar como um ator “capriano“, a erguer toda a trama em cima dos seus ombros mesmo que para isso torne descartável todo o conjunto de personagens secundárias. No fim percebe-se, que os veios analistas não chegam a ser profundos, as marcas não nos levam ao seu extremo e o classicismo moralista é a solução para uma dedicada homenagem.
Talvez tenha sido American Sniper, que fora o embate com um realizador anónimo, que fez com que Sully converter-se numa experiência acima da média, mesmo assim interiorizada no cinema norte-americano academista. Mas é Clint Eastwood que se encontra na batuta, quer que se ama, ou odeia, é esse fator humano que conta.
Pontuação Geral
Hugo Gomes
sully-hugo-gomesO melhor - Tom Hanks e a catarse heroica de Clint Eastwood / O pior - Não ter asas para sair do registo classicista digno do realizador