Sexta-feira, 19 Abril

«Bastille Day» (Missão Antiterrorista) por Duarte Mata

Começamos por admitir que estávamos à espera de encontrar pior em Bastille Day: Missão Antiterrorista. Ao invés de algo chauvinista, como é corriqueiro de colher no cinema nesta altura do ano, deparámo-nos com um produto perfeitamente dotado da consciência sociopolítica que se passa na Europa, nesta intriga onde um agente da CIA e um carteirista (ah, esse eterno fetiche cinéfilo…), tomado por terrorista, tentam desmantelar uma organização subversiva que está a espalhar o caos em França.

Num ano em que os nossos contemporâneos francófonos são totalmente dignos de complacência mundial, é impressionante como James Watkins tenta transmitir o clima de medo e insegurança que é experienciado nestas situações. É o caso de cada gesto ser registado por câmaras de vigilância (mas não as suficientes para impedir um atentado) ou, quando estas estão ausentes, por telemóveis. Estará a França, portanto, a caminhar, lentamente, para um regime totalitário? E será injustificável que o faça? Watkins não esclarece, mas o retrato que faz dos deputados políticos (particularmente um de extrema-direita que proclama discursos anti-imigração, que pode bem ser inspirado em Marine Le Pen, aliás, é improvável as semelhanças do símbolo do partido do mesmo com o da Frente Nacional Francesa serem acidentais), bem como as temáticas da brutalidade policial (encenada, por vezes) e a influência que as redes sociais acabam por exercer na ordem pública (nem escapa o pormenor de uma mísera hashtag originar um motim indomável) mostram-no como um realizador que não anda a dormir em serviço.

Por isso, mesmo que não chegue a ser um bom filme (a montagem recai na ingenuidade de que é um excesso de planos de milésimos de segundo com murros disfarçados que conferem tensão ao filme), Bastille Day está ciente dos assuntos que toca e do status quo mundial presente. Com esta realidade facilmente reconhecível, não admira, assim, que fosse retirado das salas francesas após o infeliz ataque recente em Nice.

O melhor: A consciência sociopolítica que a França/Europa atravessa.

O pior: A montagem, ingénua e indistinguível de produções semelhantes.

Hugo Gomes

 

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