Sábado, 20 Abril

«Florence Foster Jenkins» (Florence, Uma Diva Fora de Tom) por Hugo Gomes

Florence, Uma Diva Fora de Tom centra na história de uma aristocrata que sonha protagonizar uma ópera. Um sonho que poderia ser facilmente cumprido se ela não possuísse a mais “inaudível das vozes” … esperem aí … será que estou a viver um déjà vu! Tal história já não havia sido adaptada ano passado? Mas afinal o que se passa aqui?
 
Não se trata de nenhuma recordação de vidas passadas, mas sim, da resposta norte-americana a Marguerite, um filme francês de Xavier Giannoli que apresentava Catherine Frot como uma aficionada de música que sofre de um grande mal … é desafinada “o quanto farta para cantorias“. Mas esse “pequeno” grande defeito é ocultado da protagonista. Como? Com concertos encenados, opiniões forjadas e uma dedicação “martirologica” do seu marido. Mas nada disso impediu que Marguerite Dumont (referência à atriz Margaret Dumont, que constantemente contracenava com os irmãos Groucho) cumprisse a sua intima “fantasia” de ser um “anjo” em palco. 
 
Marguerite [o filme] foi um êxito, quer financeiro, quer artístico, conseguindo trespassar a sua ideia anedótica para um negro retrato sobre a arte como objeto de ostentação. Pelo meio passava algumas e óbvias incursões de Sunset Boulevard (O Crepúsculo dos Deuses), de Billy Wilder. Contudo, não devo avançar mais, até porque esta é a crítica de um outro filme. Sim, a de Florence, A Diva Fora de Tom, a previsível aposta para a vigésima da nomeação ao Óscar de Meryl Streep (e porque a Academia adora ousadia, óbvia ironia para quem não percebeu), é mais um “biscate” de Stephen Frears. A replicada história, agora, readaptada sob a desculpa de factos verídicos. 
 
Pelos vistos existiu na realidade uma “pior cantora de sempre” e que se dá pelo nome de Florence Foster Jenkins, uma herdeira nova-iorquina que conseguiu, nos anos 40, um espetáculo no histórico Carnegie Hall, mesmo tendo como seu grande inimigo uma voz “torturante“. Meryl Streep, como sempre, encarna na sua personagem com garra e ousadia (mais que o próprio filme), mas infelizmente é na sua composição que esta produção hollywoodesca falha em todo os sentidos. Florence é demasiado “angelical“, sem o pingo de loucura de Catherine Frot e induzida num quadro semi-hagiógrafa. É o problema destes biopics sob constantes piscadelas aos prémios da Academia, tendem em branquear em demasia as suas personalidades centrais (a relembrar o falhado retrato de Margaret Thatcher em A Dama de Ferro, novamente com Meryl Streep na “calha“). 
 
Florence, Uma Diva Fora de Tom resume a um produto que falhou em consolidar a sua própria nota musical, tentando dispersar na imensidão cinematográfico, porém, encenando somente a mesma fórmula cinebiográfica. O tom, esse, é mais anedótico que o primo gaulês, encarando a história de Florence Foster Jenkins num prolongado gag de sitcom. A salientar ainda, Hugh Grant em forma e a surpresa de Simon Helberg numa variação muito “pee-wee“. O resto é desafinação pura.
 

Some say I that couldn’t sing, but no one can say that I didn’t sing

O melhor – O trio de atores

O pior – fórmula de biopic previsivel, o tom anedótico e trocista atribuido à história 

Hugo Gomes

 

 

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