Sexta-feira, 29 Março

«Race» (Race: 10 Segundos de Liberdade) por Jorge Pereira

Curioso o duplo sentido de Race no título deste filme sobre James ‘Jesse’ Owens, o atleta negro que em 1936 conquistou 4 medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Verão em Berlim, isto perante um Adolf Hitler em ascensão e a tentar exportar os seus ideais pelo mundo fora com a ajuda da cineasta Leni Riefenstahl, responsável por diversos filmes de propaganda do regime nazi, incluindo Olympia 1. Teil – Fest der Völker, Ídolos do estádio – 1ª parte, que se tornaria um exemplo industrial de cobertura de eventos desportivos  .

Se por um lado este Race pode referenciar as «Corridas» propriamente ditas das olimpíadas, também é uma clara alusão a «Raça», um termo tão carimbado não só pelo regime nazi (onde a raça ariana era superior), mas igualmente nos EUA no tratamento e segregação dos negros, isto na era da Grande Depressão.

Tudo isso é sentido no filme de Stephen Hopkins, uma cinebiografia que, apesar de procurar fazer o retrato de um individuo e de uma época, nunca é suficientemente arrojada para sair da sua área de conforto e agir mais do que uma lição de história ou de pura propaganda à perseverança e superação pessoal.

Compreenda-se que a vida de Jesse Owens  e a época em questão dava vários filmes, ou até mesmo uma série de TV com vários capítulos, mas a verdade é que este Race não nos traz realmente nada de novo para além da visualização de alguns momentos impactantes da sua vida e Era que já estão muito bem documentadas em termos literários. Por outro lado, a visão sobre o atleta supera sempre a sobre o homem, e isso sente-se igualmente no tratamento dado a outras personagens com quem Owens se cruzou no seu caminho, desta feita com uma apresentação ainda mais superficial (com uma lavagem/branqueamento de alguns pormenores bem discutíveis), como da já referida Riefenstahl, do presidente do comité olimpico Internacional (COI), Avery Brundage, ou do rival/transformado em amigo Carl ‘Luz’ Long.

No mais, o filme triunfa pelas interpretações seguras dos seus atores, em especial de Stephan James, por algumas sequências profundamente espampanantes (a entrada de Jesse no Estádio), mas perde como grande cinema pela displicência em geral de muitos momentos (tratados num registo muito telefilme) que poderiam, e deviam, ter muito mais destaque e força do que a apresentada (veja-se a falta de intensidade das sequências de corrida, em oposição ao duelo no salto em comprimento).

Por tudo isso, se a vida e os feitos de Owens são ouro, este filme nem o bronze atinge.

O Melhor: A entrada de Owens no Estádio Olímpico

O Pior: A superficialidade histórica e a falta de ambição em levar esta história a algo mais que um feel good movie com tons didáticos

Jorge Pereira

 

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