Sexta-feira, 29 Março

«Pelé: Birth of a Legend» (Pelé: O Nascimento de Uma Lenda) por Duarte Mata

Hollywood nunca foi muito dada a “futebóis” (o exemplo mais feliz continua a ser Fuga Para a Vitória de John Huston, que foi há quase 35 anos), preferindo ainda retratar os mesmos três desportos (boxe, basebol e futebol americano) até à exaustão. É pena porque o desporto que é sagrado em vários países acarreta histórias muito bonitas e exemplares (e nem é preciso ir muito longe para as encontrarmos, a vitória de Portugal no Euro deste ano teve os moldes clássicos da ascensão da equipa underdog que, por mérito próprio e um pouco de sorte conseguiu superar todas as expetativas) que mereciam estar em boas mãos para não caírem no oblívio.

Pelé: O Nascimento de Uma Lenda foca-se nos primeiros passos do jogador brasileiro e de como com apenas 17 anos foi a força impulsionadora para o triunfo da sua seleção no Mundial de 1958. Mas dizer que é um filme sobre Pelé é redutor. Os cineastas Jeff e Michael Zimbalist destacam o seu herói como portador de um legado histórico (o Ginga) que veio a ser reprimido por razões políticas e sociais e, com ele, a esperança de uma nação em ser grandiosa. Não se trata apenas de um indivíduo a querer superar-se e definir-se como ícone, mas também de uma cultura a reencontrar a sua identidade.

No entanto, por melhores que sejam as intenções, esta é uma produção de Brian Grazer (o homem que esteve por trás dos biopics Uma Mente Brilhante e Rush [ler crítica]) padecendo dos mesmos defeitos que as restantes: personagens com pouca densidade, uma narrativa derivativa e previsível, embora possua um trabalho de atores mais curioso que as referidas. Se Vincent d’Onofrio como treinador da seleção é desaproveitado e não chega a ter algo a que se lhe possa chamar de personagem, Seu Jorge como pai do número 10 brasileiro é a mais interessante, espécie de vida alternativa que poderia reservar ao jogador se tivesse abandonado o seu talento por uma carreira mais certa. É ele e o empenho com que os atores que interpretam Pelé nos seus anos mais novos em aprender as técnicas de finta que não dão a obra por perdida. E sim, consegue captar o raro espírito futebolístico, embora esteja longe de dar razões para se gritar o “Golo!” no fim.

O melhor: Seu Jorge e o espantoso empenho dos atores que interpretam Pelé novo em mimicar o número 10 brasileiro.

O pior: Derivativo e previsível.

Duarte Mata

Notícias