Terça-feira, 23 Abril

«Ghostbusters» (As Caça-Fantasmas) por Hugo Gomes

Atualmente, qualquer crítica dirigida à nova versão de Ghostbusters deve ser conduzida com a maiores das delicadezas. Pelos vistos, e como já soa polémica, durante a sua produção, Paul Feig foi criticado por fontes, sobretudo sexistas, pela direção que este remake estaria a seguir, sendo que o quarteto, anteriormente interpretado por Bill Murray, Harold Ramis, Dan Aykroyd e Ernie Hudson, era agora desempenhado por mulheres, três delas oriundas do SNL (Saturday Night Live). 
 
Em consequência deste hater mob, o filme integrou uma espécie de statment sociopolítico nos dias de hoje. O resultado ficou à vista de todos, fácil de defender como também “atacar“, consoante a posição, automaticamente ingressada numa ideologia, conforme ela seja. Mas vamos por partes, não estamos a insinuar que o primeiro Ghostbusters, ou popularmente chamado de Caça-Fantasmas, seja um exemplo máximo da comédia cinematográfica. Tende bons momentos nessa área e sobretudo composto por um argumento astuto, a obra de Ivan Reitman “envelheceu” mal até aos dias de hoje. Os efeitos especiais são obsoletos, o ritmo é muito vinculado na pop culture dos 80’s e há sobretudo uma carência de personagens femininas, mesmo tendo Sigourney Weaver (uma das primeiras grandes heroínas de Hollywood) no elenco (talvez tenha sido por essa área que Paul Feig decidiu repensar na estrutura desta refilmagem). 
 
Mas em comparação com a nova versão, deparamos um filme mais livre, solene e sobretudo carismático. Enquanto que a de Paul Feig, por outro lado, é uma arriscada fita que tenta consolidar os talentos das suas protagonistas com um eventual “fan service“, ou seja, de livre, este Ghosbuster nada tem, apenas assume-se aquilo que é, um remake, e pessoalmente foi essa a única característica que me fez “torcer o nariz” durante os anúncios desta produção.
 
Muito bem, já que começámos com o pé esquerdo, vamos esquecer por momentos que existiu um homónimo filme em 1984 e a respetiva sequela de 1989, e assistimos a este Ghostbusters como um só e único filme. Depois de ter envergado pelas comédias rotuladas de femininas como Bridesmaid: A Melhor Despedida de Solteiros [ler crítica], o sem nexo The Heat: Armadas e Perigosas [ler crítica] e o mais sexualmente consensual Spy, Paul Feige regressa ao seu estilo humorístico, brejeiro e por vezes ofensivo, mas socialmente aceite devido ao género sexual das suas protagonistas. 
 
 
Sim, já sei o que devem estar a pensar – mais um que julga que as mulheres não podem “ter piada“. Mas uma “coisa” é ter piada, a outra é a utilização do mesmo tipo de humor que enche e sobra nas “malditas” produções de Adam Sandler ou nas inúmeras tentativas cómicas que surgem nas nossas salas, sob protagonistas masculinos. Mas como havia referido, o problema não está no sexo, mas na qualidade das piadas, recorrendo quase instantaneamente a “dick jokes” ou neste caso a “vagina jokes“. Por outras palavras o humor chega a ser insuportável, pueril, egocêntrico e demasiado enraizado no stand up comedy, existe pouca subtileza aqui e nos momentos em que por fim esboçamos um sorriso nas nossas faces advém da caricatura transposta por Chris Hemsworth, talvez a sua grande prestação de carreira, ou das previsíveis referências e especiais cameos que nos afrontam. 
 
Mas o pior está para vir, é que Ghostbuster tende em transformar da comédia improvisada e alicerçada aos “atributos” das suas protagonistas num claro e rotineiro blockbuster norte-americano, os efeitos visuais tomam rédeas do projeto, os tiques de milhares de produções fundem num só registo, e o climax é de uma previsibilidade avassaladora. A juntar a isto, temos quase uma cópias deslavada dos terceiros atos do filme de 1984 e da respetiva sequela. Pronto, cedi, acabei por voltar à comparação.  Mas pelos vistos é isto “folks“, no fim de contas, este Ghostbuster não é mais que um remake que durante a sua progressiva produção adquiriu um ativismo que não se evidencia no seu resultado.
 
Vale a pena este novo Caça-Fantasmas? A curiosidade pode matar o “gato“, como se diz, mas não as memórias. Estas persistem, até porque Paul Feig fez um filme tão inofensivo, que qualquer atenção nisto é demais.  
 
 
Hugo Gomes
 

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