Saw é o filme que todos os fãs de cinema fantástico esperam ansiosamente. A história é retorcida e tortuosa: dois desconhecidos acordam numa casa de banho abandonada, presos um em cada ponta por uma grossa corrente, sem fazerem a mínima ideia de como foram lá parar ou com que objetivo. No meio deles está o cadáver de um homem que, aparentemente, se suicidou. Tem na mão direita um gravador e na mão esquerda uma arma.

Adam (Leigh Whannell) e o Dr. Lawrence Gordon (Cary Elwes) vão ter de trabalhar em conjunto para deslindarem porque estão ali. Depressa descobrem que fazem parte de mais um jogo do assassino em série Jigsaw. Este é conhecido por orquestrar os seus crimes de tal maneira que a vítima acaba por se suicidar. No entanto, ela tem sempre a hipótese de conseguir libertar-se. Basta seguir as pistas deixadas por Jigsaw. Uma particularidade desde assassino em série é que ele escolhe vítimas que, aparentemente, perderam a vontade de viver para testá-las: será que querem de facto morrer ou vão lutar pela vida?

O este é o primeiro filme realizado e escrito por James Wan, juntamente com Leigh Whannell que também interpreta o papel de Adam no filme. E não se estreou nada mal. Embora a realização não seja excepcionalmente inovadora, não recorrendo aos planos rápidos, ao zoom e à alteração de cores, artifícios muito usados neste tipo de filmes, a verdade é que o espectador está preso à película do início ao fim. Cada momento é mais intenso que o outro e cada coisa que os dois homens descobrem dá mais vontade de saber o que de facto está por trás de todo aquele jogo mental diabólico. Onde o filme prima realmente é no argumento, coerente, sólido e sinistro. Não há falhas em termos da construção dos “jogos” ou em momentos de previsibilidade. Cada instante as personagens revelam mais sobre si e o espectador vai compreendendo melhor o motivo pelo qual estão ali.

As personagens estão bem construídas e vão revelando partes da sua personalidade conforme a ação vao progredindo. Esta evolução está ao ritmo certo. Embora em certos momentos Cary Elwes pareça algo exagerado, a intensidade da sua representação no final do filme é sublime. A sua preocupação com a família e certas atitudes que toma mostram que absorveu bem a essência da personagem e que, de facto, lhe vestiu a pele.

De carácter semelhante ao já ao culto Seven, de David Fincher, este assassino em série tem também um carácter moralista e, de certo modo, evangelizador. No entanto, em vez de vermos a acção pelos olhos dos polícias, vemo-la pelos olhos das vítimas do crime. Recorrendo a algumas analepses para demonstrar os crimes antigos, estes momentos estão bem inseridos na dinâmica da acção. Apenas um ponto negativo para a história dos polícias, que não está suficientemente desenvolvida para que consigamos sentir empatia com as personagens.

Sempre num ritmo crescente de adrenalina, há um momento em que pensamos que o realizador estragara tudo, tornando o final da história previsível e condenando o filme ao fracasso. No entanto, o já esperado final twist surge de forma totalmente inesperada e de um modo que nos deixa pregados à cadeira pela mestria e pela mente brilhante desde assassino em série. O recordar de pequenos pormenores, através de um rápido processo de rewind, faz-nos entender totalmente o que se passou, se por acaso estávamos desatentos e não tivéssemos entendido o salto no argumento…

Cátia Simões

Pontuação Geral
Cátia Simões
Hugo Gomes
Victor Melo
Carla Calheiros
saw-enigma-mortal-por-catia-simoesUm thriller que os fãs há muito esperavam.