Quinta-feira, 28 Março

«Free State of Jones» (Estado Livre de Jones) por Hugo Gomes

Um pedaço de História dos EUA torna-se nas mãos de Gary Ross, o responsável pela adaptação do primeiro livro de The Hunger Games [ler crítica], num enfadonho filme de pedagogia. Ao que parece os tempos de John Ford já lá vão, o que se pretende não é revisitar a Guerra Civil norte-americana, o cenário bélico responsável pela formação do país que é hoje tido, mas sim apurar as causas para as irresponsabilidades sociais atuais. Obviamente, sem querer cair em corretas “politiquices“, mesmo que os dias que decorrem motivam-nos a vergar por este ramo, Estado Livre de Jones é um projeto desfragmentado, calculado para ofender o mínimo de faixas (quer etárias, raciais, religiosas e étnicas) possíveis. 
 
A fórmula é simples – apoiar-se nos factos verídicos e exorcizarem-se nele uma espécie de catarse politica. Até aqui tudo muito bem, o problema é que Ross não consegue decidir qual o melhor veiculo para a difusão da sua mensagem (neste caso mensagens). O resultado é uma “trapalhice” narrativa; ora segue (sem aviso prévio) o corte temporal para a oferenda de subenredos despropositados, ora recorre às legendas para situar o espetador no tempo o qual é incapaz de transmitir, ou “tapa os seus buracos narrativos” com breves exposições de fotografias reais, como se tais mudos testemunhos invocassem forças necessárias a toda esta fachada. 
 
A história real por detrás deste Estado Livre de Jones poderá ser fabulosa, nisso não poderemos negar, uma insurreição dentro de uma insurreição é pólvora ardente para um cinema de forte componente politica, mas a maneira como se dispõe estes factos é de uma automatização alarmante, uma mecânica “mastigada” que nos finaliza com um terceiro ato isento de qualquer climax ou de trabalhado conflito. 
 
Pouco mais existe para dizer neste pseudo-bélico sem amor-próprio pelas personagens e sem compaixão alguma pelo esforço cometido por Matthew McConaughey no papel do “justo” Newton Knight, um dos heróis esquecidos de um país que atualmente prefere venerar snipers e empresários na corrida presidencial. Ao que tudo indica, nem as produtoras tiveram fé nesta “causa“, a resposta disso foi um filme deste género e com tamanho potencial ter sido lançado “à mercê da sua sorte” por entre os blockbusters de Verão. Lastimável!
 
O melhor – Matthew McConaughey
O pior – O tratamento que estes fatos veridicos receberam
 
Hugo Gomes 
 

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