Quinta-feira, 18 Abril

«Where to Invade Next» (E Agora Invadimos o Quê?), por Paulo Portugal

Férias pagas, almoços saudáveis para crianças, prisões sem grades, despenalização de drogas e gestão cada vez mais feminina dos governos e bancos são alguns dos segredos que Michael Moore ‘roubou’ durante o seu périplo pela Europa e que levou para a América como espólio da sua invasão da Europa. Mas não só. O resultado, ainda que não isento de alguma manipulação, resulta do filme mais divertido que vimos no passado Festival de Berlim e que agora chega às nossas salas.

Esta operação conta mesmo com uma passagem por Portugal, onde Moore ergue o sobrolho diante dos agentes da polícia portugueses que confessam que não deteriam ninguém mesmo que tivessem 25 charros no bolso…

Na sua mais recente pedrada no charco do sonho americano, Michael Moore aponta armas para o exterior. Diz ele que mais barato que fazer novas invasões de nações estrangeiras, o governo americano deverá antes absorver os elementos mais positivos das culturas estrangeiras e reproduzi-las na América.

E, por que não até, sem pagar direitos de autor. É que, segundo ele, em vez de armamento pesado em troca de petróleo, sugere boas práticas para aplicar internamente.

No entanto, para quem desconhece ao que ele vai e se baseia apenas na sugestão do título logo se rende ao quadro que mostra Moore junto de uma imagem do estado maior americano que, segundo ele, o teria indigitado para fazer a sua invasão em nome dos EUA. É assim que vemos o obeso realizador, vencedor de um Óscar, por Bowling for Columbine, a avançar mar adentro empunhando a bandeira americana.

Primeira paragem: Itália, onde este bardo americano irá inteirar-se dos prazeres dos subsídios de férias, das férias acumuladas, dos feriados religiosos, locais, das licenças de maternidade.

Benefícios sociais que os empresários assumem com naturalidade, mas que na economia privada americana seria impensável.
Duas semanas de férias pagas, no máximo, seria um benefício num emprego acima da média.

Michael desloca-se depois a França para descobrir os prazeres das cantinas gourmet em estabelecimentos de ensino público, alheias à fast food processada made in US.
Mesmo com a desconfiança de não ser propriamente o modelo, Moore pretende apropriar-se da ideia e levá-la para casa. O mesmo fará com o ensino superior maioritariamente gratuito das universidades eslovenas, com o grau de satisfação dos trabalhadores alemães, com o sistema prisional norueguês, em que os prisioneiros são enviados para uma ilha onde vivem numa espécie de comunidade onde poderão repensar a vida e aprender novos metiers.

Michael Moore mostra até estar a par da realidade portuguesa ao elogiar a política de liberalização do consumo de drogas, isto durante a deslocação ao nosso país onde o vemos em plena celebração do 1º de Maio, em plena Alameda, a cantar a Internacional.

E não deixa mesmo de ficar boquiaberto quando agentes da PSP lhe confirmam que não deteriam alguém mesmo que estivesse na posse de ’25 charros’… Neste caso, como em outros, Moore mostra-nos o equivalente da actuação brutal da polícia americana que estamos habituados a ver na televisão.

No entanto, a principal solução para os inúmeros descalabros das crises americanas parece vir do sucesso da implementação de equalizarias dos direitos femininos na Tunísia, bem como do crescente domínio feminino das administrações de empresas e bancos na Islândia – por curiosidade, o único banco que não foi abalado pela recente crise financeira islandesa, que derreteu a quase totalidade da banca local, foi um banco gerido por mulheres, dominado pelo credo “se não compreendemos não compramos”.

É claro que nem tudo o que Michael Moore nos mostra em E Agora Invadimos o Quê? é merecedor da nossa credibilidade, já que se trata de um documentário mais destinado ao público americano, esse sim que necessita de ser confrontado com o que se passa no resto do mundo. Sobretudo o eleitorado que equaciona ter um Presidente chamado Donald Trump.

Seja como for, é um filme que se dá bem naquela linha documental com uma vincada veia humorística e sempre acusatória em que Moore se especializou. Digamos uma paródia ligeira para europeu ver como bonomia e para americano – sobretudo a grande massa humana que nunca saiu do país – encarar como mera ficção pouco credível.

O melhor: Ver o Michael Moore a desfilar Alameda abaixo em pleno 1º de Maio
O pior: Fica no ar a ideia de que dificilmente este filme será levado a sério nos EUA.


Paulo Portugal

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