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«Dog Eat Dog» (Como Cães Selvagens) por Hugo Gomes

Será esta a redenção de Paul Schrader com o cinema? Contudo, outra pergunta deveria ser feita – será que Schrader realmente vingou como realizador de cinema? “Tricky question”, mas a verdade que o autor é mais tido como um lendário argumentista, o responsável pelos guiões de Taxi Driver e Raging Bull, do que propriamente como um realizador a solo, sendo que as suas tentativas nessa área diversas vezes deram para o torto (nesse sentido Adam Ressurected poderá ter sido o seu melhor trabalho).

Mas em Dog Eat Dog vemos um, não um regresso, mas  uma entrada bastante peculiar ao universo da direção cinematográfica. É um filme violentado, sim, induzido numa indústria politicamente correta e cheia de moralismos e sensibilidades que se insurge contra essa mesma condição. Dog Eat Dog é um thriller de ação da veia altamente criminosa, cuja premissa simplista se pode referir em três “malfeitores” que sequestram o bebé de um mafioso e o golpe desmorona desde o momento em que é concebido. No centro dessa intriga, que no papel não traduz a sua vitalidade, encontramos Nicolas Cage no seu inesperado regresso, o retorno à sua forma impulsiva dos anos 90 (quem não se lembra dos seus “irreais” papeis em Face Off e Leaving Las Vegas). Ao seu redor está um ambiente tipicamente 80’s sob as costelas deixadas pelo cinema de Scorsese (fruto das melhores colaborações de Schrader com o realizador nova-iorquino).

Uma atmosfera que não deixa dúvidas, Schrader está a borrifar-se para os censores da boa conduta cinematográfica e muito mais para a classificação estabelecida pelos órgãos de avaliação. Isso nota-se na primeira sequência, onde um impagável Willem DaFoe destrói qualquer indicio de benevolência. Se Dog Eat Dog é um exercício de indisciplina cinematográfica, infelizmente é só isso que o filme tem a oferecer-nos. Com um final alucinado a “copiar” um David Lynch na sua melhor forma, Paul Schrader encerra o seu novo trabalho de forma inconclusiva. Assim, sentimos que havia mais a ser entregue aqui, mas tal não é cumprido.

De resto, surge Nicolas Cage a demonstrar que não esqueceu de como atuar, sim, acabando por ser o grande presente de uma sessão pouco satisfatória. Dog Eat Dog é simplesmente “mais olhos que barriga”, mas precisamos mais olhos destes na atual indústria cinematográfica norte-americana.

O melhor – A ousadia do projeto, o retorno de Nicolas Cage (tem andado hibernado nestes últimos anos).

O pior – depois da promessa, nada …

Hugo Gomes