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The Last Face: que nunca seja o vosso último filme …

 Por onde devemos começar? Pelo facto de Sean Penn, mesmo sob o pretexto de amor ONG, não conseguir esconder um espírito colonialista de uma África auxiliada pelo Ocidente? Pelo seu ativismo politico e social com discursos de bolso sobre a ajuda humanitária aos Refugiados e à pobreza mundial? As boas intenções que não conseguem disfarçar o baratismo sentimental como dispositivo de comoção direcionado ao público das mesmas notícias de telejornais? Pelo enésimo branqueamento, literalmente falando, de uma África cinematográfica e problemática? Ou pelos diálogos incrivelmente bacocos e deslavados perante tanta “pirosidade”?

Sim, The Last Face é algo indescritível, o cinema volta a mostrar que pouco sabe de África para além dos estabelecidos lugares-comuns da eterna consciência branca. Sean Penn, defraudado com o seu “high moral ground”, convencido que as boas intenções pagam a passagem ao barqueiro, incute um romance desproporcional tal como acontecera anos antes em Beyond Borders (Martin Campbell, 2003), onde Angelina Jolie e Clive Owen apaixonam-se para além das barreiras. Este não é o Penn que conhecemos, o realizador de Into the Wild, é antes um orador de um discurso ativista com mais chance de irritar do que propriamente “mudar o mundo”.

Uma colecção de “porverty porn” e de desgraças com mais noção hollywoodesca do que propriamente a criação de uma crítica / denúncia social. Nesse sentido, Beasts of No Nation é mais direto, sem a necessidade de condimentos românticos nem personagens ocidentais como atrativos de marketing. Até porque a África atual está longe do romantismo colonial de outrora, daquela “fantasia exótica” que os portugueses tanto adoram invocar nos seus filmes de época (Cartas da Guerra, Tabu, Costa dos Murmúrios). Isto é um assunto sério, a nível global, como também é desprezado por essa mesma escala. Tal como a canção coletiva “we are the world, we are the children“, o mundo não muda com cantigas. O paternalismo hippie –  make love, not war –  aludido à primeira legenda deste filme, prevê o fracasso de todo o tamanho que este The Last Face iria se tornar.

Nem mesmo Javier Bardem e Charlize Theron safam-se a este grave atentado, a este Sean Penn “bêbado” que se julga Terrence Malick em causas humanitárias. Falando em atentados, ver a “promissora” atriz Adéle Exarchopoulos, presente no elenco só como garantia de coprodução, é o equivalente a esfaquear o meu coração com uma faca de manteiga. Matem-me, por favor!