Mohamed Diab, conhecido no seu país como um revolucionário desde a primeira longa-metragem (Cairo 678), aciona os motores para um registo de cerco, compondo os mais variados lugares-comuns numa “bandeja” ao serviço de uma ingénua mensagem politica.

Em Clash deparamos com um Egipto de 2013, dois anos depois da sua revolução (da Primavera Árabe que romanticamente gostamos de invocar), um cenário de guerra civil entre manifestantes e apoiantes da Irmandade Muçulmana, um conflito que perdura e na maior das hipóteses, perdurá durante longos anos. O palco é bélico, mas o filme não tende em aprofundar esse mesmo cenário. Sendo, sobretudo, um filme honesto na sua premissa, Clash aposta nas limitações de um “carro-cadeia” para expandir a sua intriga. Esse mesmo local torna-se pouco a pouco numa espécie de “conference room” de todo um conjunto ideologias politicas.

Eis uma espécie de Doutor Estranho Amor, de Stanley Kubrick, com o confronto ético de 12 Homens de Fúria, de Sidney Lumet, e com claras alusões ao thriller de rígidas limitações ao instinto de sobrevivência das suas personagens, aqui carenciadas por conflitos realmente relevantes. É pena, que todo este episódio sirva como uma espécie de panfleto cinematográfico, e um daqueles bem inocentes que só alimenta uma ideia cada vez mais “impossível” de harmonia isenta de qualquer “statment” ou doutrina. Com isso, vale a pena salientar Clash pela sua proposta, uma construção narrativa que não aponta originalidade, mas que atinge um ritmo infalível.

Mohamed Diab apenas falha pela sua própria natureza, o seu jeito revolucionário ingénuo. Sobre temas destes, necessitávamos mais frontalidade e punho, e menos “we are the world”!

Pontuação Geral
Hugo Gomes
clash-por-hugo-gomesO melhor – o ritmo / O pior – o tratamento ideologicamente político